Capítulo 5 do Volume 2: Sem desejo (Controlados)
Sem desejo | |
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Volume | 2 |
Parte | 1 |
Número | 5 |
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Em "Sem desejo", ...
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Capítulo comentado[editar]
Byron se policiou para não coçar mais a região da barba. Não queria deixar, soltos no ar, indícios de que algo estava fora do lugar.
Visitou Neborum mais uma vez. Desde o ataque do alorfo fora enviado de volta para o próprio castelo e de lá não conseguia sair. Uma força maior que o vento, mas mais sutil que um simples obstáculo sólido, impedia o avanço a partir da porta; fazia arder as articulações, especialmente as dos joelhos. Fazia doer os músculos no antebraço, no pescoço, nos dedos contraídos dos pés.
--- Por que ainda me quer aqui, mestre, é o que eu não entendo.
De braços cruzados e postura reta à frente da escrivaninha, Tornero cultivava nos olhos o mesmo ódio que surgira há horas e não dava sinais de que se apagaria tão cedo.
Kerinu foi instalado sem hospitalidade num quarto de hóspedes, amarrado por mãos e pés aos quatro cantos da cama e amordaçado. O cômodo foi trancado com as janelas e cortinas fechadas, os móveis arrastados para o mais longe possível, e os serviçais avisados para não abrirem-no sob hipótese alguma.
Mesmo depois disso, Byron não permitiu que Tornero saísse imediatamente. Lamar poderia ser pego antes de conseguir escapar das últimas jirs da cidade ao norte, justificou, e nesse caso não seria bom ser apanhado enquanto era perseguido por alguém ligado a Byron. Tornero achou a ideia ridícula.
--- Vá. --- Disse, finalmente, querendo berrar a ordem.
Se precisava falar com Kerinu, era melhor que Tornero não estivesse junto.
O prisioneiro virou o rosto para a porta quando Byron entrou no quarto. As cordas não só o mantinham preso como também o puxavam. Sangue seco cobria a bochecha direita por cima da longa e fina ferida aberta. Tentou com afinco demonstrar que sorria por detrás da mordaça, que Byron arrancou assim que chegou mais perto.
--- O que você fez? --- Perguntou Byron, baixinho.
Kerinu mostrou com um entortar de lábios o que teria feito se pudesse: um dar de ombros.
Byron socou sua barriga com o punho direito, num gesto tão rápido que o assustou e o levou para trás. Kerinu gemeu, não mais sorrindo.
A tensão dos socos
Byron deu mais três socos, sempre com o punho direito, um mais forte que o outro. Testava seus limites físicos rosanos depois do último treino pesado que teve.
Ofegante, subiu na cama. Tentou manter o equilíbrio depois de chutar o homem amarrado.
Quis pular em cima de sua barriga com os dois pés quando parou, percebendo o suor absurdo que o assaltava por debaixo das vestes pesadas.
Desceu da cama, envergonhado; era um bomin e estava enlouquecendo.
Era um bomin e estava enlouquecendo
Um medo ainda maior inundou-o com arrepios. Registrava que Kerinu tossia e gemia, respirando pesadamente, mas não quis saber de mais nada --- trancou a porta de novo com a mão tremendo e começou a verificar seu castelo. Correu por todas as salas, todos os corredores, verificou cada pedaço de sua propriedade tão bem quanto pôde com a pressa que tinha, e só foi sentir-se a salvo quando sentou-se de novo, exausto, na cadeira atrás da escrivaninha.
Tornero voltou tarde à noite, sem notícias de Lamar. Byron voltou a visitar o alorfo sozinho. Sentiu-se incomodado por ter esquecido de colocar a mordaça de volta; aparentemente Kerinu, que já estava acordado quando o bomin entrou, não achou que conseguiria alguma coisa berrando por ajuda.
--- Ainda não saio do meu castelo. --- Disse Byron, chegando mais perto da cama.
--- Eu sei.
Kerinu não demorou para responder, e sua voz não traía medo ou tristeza de qualquer tipo --- apenas uma forma de indiferença que Byron considerava extremamente incômoda. Pelo menos não estava sorrindo.
--- O que você quer?
Kerinu apoiou o peso da cabeça na ponta do queixo, levantando o pescoço e fechando os olhos.
--- Eu não quero nada. Na verdade --- Continuou, passando a encarar o mago. --- me pergunto... Quanto tempo vai demorar para Tornero tomar o seu lugar...
Byron engoliu em seco antes de tirar a espada e encostar no pescoço do alorfo.
--- Eu vou matar você antes disso.
--- E ficaria preso para sempre.
Olharam-se por mais alguns instantes. Byron relaxou a mão aos poucos até guardar a espada de volta.
Aquilo era tudo que Byron precisava evitar: não havia como saber se Kerinu estava blefando ou não. Ele mentiria bem, é claro. Não brincaria com a própria vida. Sua própria indiferença inicial, a certeza de segurança, de invulnerabilidade --- tudo fazia parte da aposta. Para Byron uma aposta com metade de chances de acerto --- um desfecho simples, rápido, que poria fim àquela agonia. Mas com metade de chances de fracasso --- sua ruína total.
Saiu do quarto e encontrou Tornero na sala de entrada. Passou direto por ele e começou a fazer alguns últimos ajustes em seus trajes.
--- Fique aqui. --- Instruiu. --- Desde que o deixe vivo e faça doer, pode fazer o que quiser.