Nova Ameaça e Fase das Aventuras (Controlados)
A Nova Ameaça foi uma fase da Primeira Guerra que se seguiu à peregrinação; a ela sucedeu a Fase das Aventuras, também compreendida dentro do contexto mais amplo da Primeira Guerra. Depois da Fase das Aventuras ocorreu a reconquista da Cidade Arcaica.
Nova Ameaça
O equilíbrio de certa forma alcançado após a peregrinação foi quebrado quando aparições do Yutsi Rubro começaram a rondar as cidades; ele parecia estar em vários lugares; acidentes e destruições periféricas eram a ele atribuídos, e ares apocalípticos começaram a tomar conta da cultura de Heelum. A reação política, concertada e generalizada em relativamente pouco tempo, foi a continuação da expansão dos humanos por toda Heelum: era preciso ir até terras desconhecidas, estabelecendo cidades em novos lugares, ao mesmo tempo distanciando-se do Yutsi Rubro e gerando alguma forma de proteção preventiva contra ele. A proteção, aliás, foi uma outra consequência da Nova Ameaça: as cidades militarizaram-se como nunca. Armas novas eram desenvolvidas, e os modelos antigos eram produzidos a nova velocidade - enquanto as pessoas, é claro, eram treinadas para usá-las. Nem sempre havia recursos em abundância para toda essa produção defensiva - e a rivalidade entre Al-u-tengo e Rirn-u-jir, até certo ponto, proporcionou algo nesse campo: a primeira cidade passou a ajudar Al-u-een e Roun-u-joss assim que a segunda propôs-se a auxiliar Enr-u-jir e cidades do Sul em termos militares.
Fundação de cidades como entrepostos militares
A corrida para prover materiais e armas para cidades menos militarísticas gerou um maior reconhecimento de território (antes da Fase das Aventuras) e levou à criação de alguns pontos de apoio, inicialmente apenas postos militares de referência, que virariam mais tarde grandes cidades. Um grupo de Rirn-u-jir que levava materiais para o sul de Heelum foi o primeiro a conhecer o Deserto de Imiorina, e em um ponto específico recomendou que no futuro fosse fundada uma cidade que facilitasse a travessia que faziam (Imiorina). Logo foram recebidos por um grupo de Kerlz-u-een, no que viria a ser o primeiro encontro de humanos de diferentes cidades desde a fuga da Cidade Arcaica. De forma semelhante, um grupo vindo de Al-u-tengo descobriu as zonas aquíferas da Grande Floresta de Heelum, e no Lago do Meio propuseram a fundação do que viria a ser Ia-u-jambu. Um grupo de Al-u-een fazia a viagem no sentido inverso, para encontrá-los no meio do caminho, e mais ao sul, para celebrar o encontro das duas cidades, foi fundada (em teoria e marco territorial) a cidade de Karment-u-een. A transformação cultural foi enorme; a interação entre cidades por meio de representantes autorizados a usar a Rede de Luz era uma coisa; viagens de enorme distância para realizar transações com o objetivo de ajudar a resistência contra o Yutsi Rubro era algo diferente; algo que excitava imaginações, inspirava obras no teatro, e fazia as cidades prepararem-se como nunca para a exploração completa de Heelum. Den-u-pra passou a se concentrar na exploração de seu potencial hídrico-naval. Uniu-se a Roun-u-joss e a Kor-u-een para, juntas, colonizarem o Sudoeste do continente. as novas cidades. Kerlz-u-een se uniu a Rirn-u-jir na iniciativa de fundar Imiorina. Rirn-u-jir também anunciou que enviaria exploradores para as regiões ao norte de suas terras. Al-u-een colonizaria Karment-u-een, e Al-u-tengo colonizaria Ia-u-jambu, além de enviar exploradores também para o nordeste de Heelum.
Fase das aventuras
O dilema do retorno parecia resolvido: chega de se preocupar com o fantasma do Yutsi Rubro. É hora de conhecer Heelum e inventar uma vida própria.
A fundação de Imiorina
Depois da descoberta de que o rio Imioraunk é, na verdade, muito rico em termos de peixes, a cidade tornou-se ainda mais independente de suas fundadoras e, independente, passou a experimentar toda uma vida própria. A população de Imiorina, em sua maioria pessoas sem família constituída, organizou-se em grupos grandes e, influenciados por aqueles que vieram de Rirn-u-jir, prosseguiram cultivando a tradição militar. No entanto, ao invés de se concentrar na fabricação das armas e na tecnologia, focaram-se em seu uso: buscaram entender os sistemas de esgrima que floresceram durante a época militarística de Heelum e unificaram os estilos de acordo com princípios táticos, criando a primeira filosofia de combates de Heelum. Desenvolveram-se enquanto povo de personalidade introvertida, preocupado com as questões táticas e com as tradições, não participando ativamente das outras aventuras que aconteciam em Heelum.
A Aventura do Oeste
O grupo de colonizadores de Roun-u-joss, Kor-u-een e Den-u-pra chegou à Península Torn, descobriram o Rio Torn, e ficaram maravilhados com mais um mistério de Heelum: uma forma de música que saía das águas correntes. Decidiram que ali haveriam de fundar uma nova cidade: Torn-u-een. Prosseguiram viagem, presumindo que mais pessoas estariam interessadas em complementar a colonização mais tarde; era imprescindível descobrir mais sobre Heelum. Viajaram mais para o Norte, descobrindo a foz do rio Imioraunk, em meio ao braço oeste das colinas de algodão. Decidiram que aquele seria um ótimo lugar para uma nova cidade, e ali estabeleceram-se permanentemente: Den-u-tenbergo havia sido declarada como uma nova cidade.
A Fundação de Torn-u-een, Prima-u-jir e Den-u-tenbergo
Todas as cidades foram fundadas a partir da mistura entre habitantes de Kor-u-een, Den-u-pra e Roun-u-joss. Ainda assim, assumiram características diferentes desde a fundação. Em Torn-u-een, os habitantes logo descobriram que a “música” que saía do rio Torn na verdade acompanhava os sentimentos e as vontades da população. Quando chegaram, ansiosos e sem saber o que esperar, a música era animada, impetuosa, praticamente o som da aventura em si (de "fogo", que inspirou o nome da cidade em na-u-min e mais tarde deu nome aos minérios com funcionalidade análoga), mas a experiência mudou com o tempo e logo a lógica foi se revelando. Torn-u-een herdou o teatro de Kor-u-een e a configuração das famílias de Den-u-pra. Escolheu a democracia representativa como forma de deliberar politicamente. Den-u-tenbergo apresentou uma dificuldade adicional: como nenhuma cidade consegue ser completamente independente no início - ou pelo menos não na forma como ela é pensada, sempre em conexão com o resto do grupo humano através da Rede de Luz - Den-u-tenbergo precisaria de tanta ajuda no início quanto as outras cidades. No entanto, a cidade era muito inacessível: por vias marítimas, sim, mas não havia uma grande frota disponível à época, especialmente no Sudoeste. A situação engendrou a fundação de Prima-u-jir, uma espécie de entreposto entre as cidades estabelecidas e a distante Den-u-tenbergo. Assim, Prima-u-jir desenvolveu uma vida comunitária descentralizada e baseada na agricultura, na pesca e na construção de barcos e navios. Den-u-tenbergo tem um perfil diferente. De difícil acesso, a cidade se desenvolveu lentamente e com pouca comunicação com outras cidades. Adotando um regime político similar ao de Rirn-u-jir, construíram uma grande fortaleza de frente para o mar que fora planejada, imaginada, desde a fundação. Detalhistas e perfeccionistas, além de obrigados a contar basicamente com seus próprios recursos e a cuidar da própria vida, investiram em tecnologia agropecuária. Depois de alguns rosanos tinham já métodos de plantação e colheita muito avançados, logo compartilhados com toda Heelum.
A Aventura do Leste
Al-u-tengo fundou Ia-u-jambu, para onde foram mentes brilhantes em termos de tecnologia militar. Estes logo construíram, além de casas (que abrigavam, pela primeira vez, grupos pequenos não-familiares, ou seja, baseados em afinidades pessoais), um lugar para conversar sobre tecnologia e conhecimento. As reuniões (deliberação política da Primeira Aurora) voltaram com força total, e ao invés de uma pessoa ser responsável pela comunicação com o exterior (usando a Rede de Luz), como nas outras cidades, qualquer um que estivesse no prédio de estudos podia se comunicar com as outras cidades. O livre pensamento, a livre discussão, era incentivada como nunca antes - inigualável até mesmo para Al-u-een, que logo seria superada enquanto cidade do registro e do conhecimento. Foi Al-u-een que, subindo pela outra ponta do mapa, fundou Karment-u-een. Estupefatos com a beleza do lugar, resolveram adaptar-se a ele, desenvolvendo uma agricultura simples e uma vida citadina bastante descentralizada (como em Prima-u-jir). A cidade ficou famosa por seus festivais em homenagem à harmonia orgânica local. Al-u-een também enviou uma expedição naval para o norte, que abriga a península Tenadi.
A Fundação de Rouneen, Ten-u-rezin e Al-u-ber
Ao contrário de Karment-u-een, que foi fundada por alguns grupos mais antigos de Al-u-een, Rouneen foi colonizada por pessoas mais jovens e sem ligações muito fortes em termos consanguíneos. Após colonizarem a cidade e instituírem um sistema de democracia representativa, incentivaram uma vida artística, inspirados pelo teatro de Kor-u-een e a escultura de Al-u-een. Se Ia-u-jambu foi fundada a partir dos elementos mais brilhantes de Al-u-tengo, Ten-u-rezin e Al-u-ber foram fundadas de acordo com elementos menos intelectualizados. Ambas as cidades desenvolveram um forte senso de comunidade própria. Ten-u-rezin orgulha-se de sua engenharia, pois adaptaram bem suas construções às colinas e às montanhas que abundam na cidade. Já Al-u-ber é uma cidade com uma arquitetura inovadora, baseada no interlaçamento de torres e castelos. Ambas as cidades são amantes das próprias tradições, incluindo festivais em homenagem às estações (como em Karment-u-een) e música tradicional, segundo os padrões da antiga Cidade Arcaica, que retomaram, lançando uma espécie de tendência que fez reavivar, por um tempo, o interesse pela música do antigo modo de viver.
A Aventura do Norte
O último território a ser explorado era o noroeste de Heelum, isolado do resto do continente por cordilheiras. Uma comissão de exploradores foi enviada a partir de Rirn-u-jir e voltou com planos de expansão grandiosos.
A Fundação de Novo-u-joss, Dun-u-dengo, Inasi-u-een e Jinsel
O processo de fundação de cada uma dessas cidades foi bastante comum, com a diferença de que foi lento. Os exploradores de Rirn-u-jir eram pessoas que estavam em permanente contato com o mundo, seja com os intelectuais de Ia-u-jambu e Al-u-een, seja com os filósofos militares de Al-u-tengo (e principalmente Imiorina) ou com os teatrólogos de Kor-u-een e Torn-u-een ou ainda com os povos festeiros e tradicionalistas de Karment-u-een, Ten-u-rezin e Den-u-pra. Eram pessoas que queriam deixar para trás a tradição militar e tecnóloga de Rirn-u-jir; quem não queria isso não era explorador - estava bem confortável exatamente na cidade em que estava. Novo-u-joss foi fundada em um lugar extremamente importante em termos estratégicos, mas preocupou-se em inovar os terrenos da cultura. A maioria dos colonizadores tinha grandes aspirações artísticas, mas eles nunca conseguiram superar as produções artísticas em termos de arquitetura, teatro ou escultura. Uma inovação tecnológica, contudo, foi responsável pela inovação que mudaria para sempre a cultura de Heelum. Descobriram um tipo de metal (o Níquel, na Terra) que permitia a criação de fios mais finos para o contrabaixo, e produzia um som completamente diferente. Nascia a guitarra. À época o cenário musical estava tomado por um retorno absoluto às tradições musicais da Cidade Arcaica, retorno encabeçado majoritariamente por Ten-u-rezin, Prima-u-jir e Al-u-ber. Novo-u-joss, sozinha, mudou tudo ao introduzir em Heelum um estilo completamente diferente. Em Inasi-u-een foram morar pessoas que incorporaram a filosofia militar de Imiorina a um espírito já militar vindo de Rirn-u-jir. A dureza da região os fez desenvolver uma cultura bastante tradicionalista, especialmente em relação a valores morais. Estando em uma região bastante isolada, eles secretamente instituíram novamente a troca de luz entre si. Em Dun-u-dengo foi parar uma população de aventureiros jovens bastante ligada à cultura de Rirn- u-jir. Estes não queriam inovar numa direção diferente; ao invés disso, viajaram e criaram raízes em um lugar distante para buscar inovar na mesma direção — e conseguiram. Os exploradores de outrora relataram que conheceram minérios um pouco diferentes nas explorações que fizeram em algumas cavernas e montanhas. Dun-u-dengo descobriu o ouro nas colinas da Península Macaco. Não inovaram na produção de armas, pois o ouro era impróprio para ser usado na fabricação delas. Em Jinsel foi parar uma população muito jovem, que inovou o pensamento de Heelum de maneira radical com a Revolução Sexual.
Consequências da Fase das Aventuras
Heelum mudou completamente quando a exploração se consolidou e descobriu-se que não havia mais espaço (nenhum bastante conveniente, pelo menos) para mais grandes cidades. Havia 21 delas, além do povo al-u-bu-u-na, ainda desconhecido das cidades. A língua havia se modificado um pouco, refletindo o crescimento da população e o conhecimento de novas realidades e de novos lugares. Além disso, novas palavras tiveram que refletir as revoluções que as aventuras introduziram no mundo. Cada cidade estava mais especializada do que nunca, e blocos surgiam. Rirn-u-jir, Al-u-tengo, Dun-u-dengo e, mais recentemente, Roun-u-joss, eram potências militares e tecnológicas. Inasi-u-een e Imiorina compartilhavam do interesse pela filosofia marcial. Novo-u-joss era a líder da revolução musical, que encontrava maior aceitação em Enr-u-jir e Ia-u-jambu, e esta, por sua vez, era a nova capital do conhecimento e do pensamento. Al-u-een, e Rouneen se destacavam no pensamento político e nas esculturas, enquanto que Al-u-een rivalizava com Al-u-ber em termos arquitetônicos. Torn-u-een e Kor-u-een desenvolviam o teatro como ninguém, e a música tradicional ficava por conta de Ten-u-rezin, Al-u-ber e Prima-u-jir. O desenvolvimento agrário era liderado por Kerlz-u-een e Den-u-tenbergo, e as festas mais famosas e grandiosas de Heelum vinham de Karment-u-een e de Den-u-pra. No final das contas, Heelum tornou-se um mundo plural, multicultural, e ao mesmo tempo uno, posto que todas as cidades se respeitavam e, apesar das rivalidades, se comunicavam e aprendiam umas com as outras. As velhas gerações, os primeiros a viajar, se foram, e conseguiram passar às novas seus valores, suas tradições e suas técnicas. Em contrapartida, as novas gerações se alimentavam de uma vontade de expansão, de descoberta e de inovação que nada tinha a ver com o medo do Yutsi Rubro, com a fuga e com a proteção. Falavam a mesma língua e viviam aquecidos pela positiva guarda da Rede de Luz, que a todos unia, nos piores e nos melhores momentos. Se os mais velhos, contudo, se preocupavam com a luz, ela não era tudo para os jovens, que a usavam como motor para a descoberta de novos valores -como a integração com a natureza, a realização física mais imediata de Heelum. Este era, é verdade, um ideal em voga na época: sair da Cidade Arcaica levou os humanos a descobrirem as maravilhas naturais para além da rede de luz, e a querer viver em uma maior comunhão com elas. A cartografia avançou e, em Ia-u-jambu, o primeiro mapa completo de Heelum foi confeccionado. Tudo havia sido descoberto. Toda a Heelum estava catalogada. Ainda assim, faltava algo: a Cidade Arcaica. O Yutsi Rubro pode ter sido esquecido como medo real e palpável, mas povoava o imaginário de todos como um fantasma maligno e terrível. Ninguém se preocupava de verdade com ele, mas ao mesmo tempo apenas Inasi-u-een (e em segredo) permitia a troca de luz novamente. Imbuído desse espeírito, o Exército da Luz foi fundado.