A dinâmica da magia (Controlados)

De Wiki Petercast
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A magia é um dos mistérios mais peculiares de Heelum e o aspecto mais singular da trama de Controlados.

Neborum

Isto é mais ou menos como Neborum tipicamente se parece. As nuvens, contudo, seriam amarelas. Foto por Seryo (Flickr).

Neborum é uma realidade paralela à realidade física, imediata, conhecida pelo nome do mundo em que fisicamente se vive, Heelum. Neborum é, portanto, uma realidade complementar e virtual cujo conteúdo espelha, em parte, o conteúdo da realidade física. A partir de estabelecida esta relação, neste artigo assume-se que Neborum seja entendida como a realidade virtual e Heelum, a real, para que apenas os nomes (Neborum e Heelum) sejam usados, evitando expressões repetitivas.

Neborum reproduz o conteúdo de Heelum de variadas e relativas maneiras. Neborum é sempre um campo gramíneo com pequenas variações como árvores, colinas, rochas ou fontes de água (funcionalmente irrelevantes em Neborum), independentemente se em Heelum a pessoa que acessa Neborum está no campo, no oceano, em áreas urbanas, etc. O clima de Neborum reflete o clima de Heelum, portanto aspectos de Heelum como temperatura, chuva, presença de nuvens, etc estão presentes em Neborum de acordo com o clima de Heelum, ainda que não com total verossimilhança de cenários (o céu que se vê em Neborum não é exatamente igual ao de Heelum, embora se estiver chovendo em Heelum também estará chovendo, a princípio, em Neborum).

Pessoas: castelos e iaumos

Para além do terreno e do clima, o conteúdo de Neborum consiste em castelos que representam as pessoas nos entornos da área em Heelum. Assim, quando uma pessoa acessa Neborum vê o seu próprio castelo (o ponto de vista é de dentro do próprio castelo) e, para cada pessoa próxima a ele em Heelum, um castelo próximo ao seu em Neborum. Cada pessoa possui um castelo único em termos de estilo e construção, podendo variar também na presença de ítens como portões secundários, jardins, torres, muros, saguões, escadas, etc (não há necessariamente um significado fixo e universal para cada um desses elementos). Os castelos são também modificáveis, variando espontaneamente com o tempo: eles refletem, ainda que não de maneira fixa e universal, mudanças e eventos da vida pessoal de cada pessoa representada pelo castelo em questão. Além disso, podem sofrer intervenção direta das pessoas que representam (desde que elas tenham acesso, é claro, a Neborum para poder fazê-lo). Todas essas características estruturais dos castelos podem refletir, em variados níveis, as características das pessoas representadas. As técnicas dos preculgos e dos bomins consistem em ter um conhecimento aprofundado sobre os possíveis significados contextuais de cada uma dessas estruturas, e também de salas que aparecem com frequência em muitos castelos.

O "homem #3", neste exemplo, acessa Neborum. As outras 3 pessoas que estão fisicamente perto dele em Heelum são representadas, em Neborum, por três castelos também próximos ao castelo do homem #3. Dentro de cada castelo, um iaumo que "encarna" a vontade / consciência de cada um.

Assim como as pessoas se movem por Heelum, os castelos se movem por Neborum. Duas pessoas que se esbarram, por exemplo, podem provocar uma colisão entre castelos, mas isso não ocasiona danos estruturais aos castelos (mesmo quando a colisão em Heelum for intencional, como no caso de uma briga). O castelo não muda de posição em Neborum por comando da pessoa: castelos sempre e apenas reproduzem fielmente a relação entre os corpos de Heelum, ainda que possam ter a proporção entre si um pouco alterada por motivos topográficos ou por causa do tamanho dos castelos (que também é variável).

Apesar da variabilidade estrutural todos os castelos têm em sua constituição dois elementos fundamentais: no mínimo uma (1) porta e, conectada à porta, no mínimo um (1) espaço completamente envolto por materiais estruturais - ou seja, um espaço sem uma abertura para que alguém possa simplesmente passar por ela ao invés de ter que entrar pela porta (sem contar janelas e orifícios em geral). Em suma, desconsiderando armadilhas linguísticas para fins de simplificação, uma porta que dá acesso a uma sala. A porta simboliza o intermédio entre a pessoa e o mundo exterior; a sala é, é claro, uma redução ao mínimo do que o "castelo" pode ser sem que se torne indigno até mesmo de ser chamado de "abrigo". Isto é, é preciso no mínimo "alguma coisa" que represente um humano vivo em Neborum; se não um castelo, que seja pelo menos esta espécie de sala irredutível.

Dentro de cada castelo vive no mínimo uma (1) representação da vontade da pessoa, que geralmente assume a forma do corpo da pessoa em Heelum (mas nem sempre - às vezes a representação pode ser uma versão modificada do corpo de Heelum, ou ainda algo completamente diferente). Essa representação é conhecida em na-u-min como iaumo - a alma. O iaumo não simboliza o corpo físico da pessoa (isso quem faz é o castelo): o iaumo tem liberdade para se locomover dentro de seu próprio castelo e também fora dele - isto é, aqueles que acessam Neborum o fazem; quem não acessa Neborum tem seu iaumo adormecido em alguma sala de seu castelo, mas ainda assim ele está lá. O iaumo pode ser multiplicado, a única limitação técnica sendo a energia gasta para a manutenção de todas essas versões da consciência e, principalmente, a distribuição de atenção e concentração para as atividades de todas elas. O iaumo só deixa de existir se a pessoa em Heelum deixar de existir - não é possível que um iaumo deixe de existir em Neborum, ou que morra; mesmo que um iaumo seja esquartejado, por exemplo, ele vai simplesmente reaparecer, recomposto ainda que dolorido ou confuso, dentro do castelo da pessoa em questão. O mesmo ocorre com castelos em si: um castelo simplesmente não pode desaparecer, ser pulverizado apenas em Neborum; isso só ocorre quando a pessoa fisicamente morre em Heelum.

É sobre esses três elementos - o castelo, que representa a pessoa como um todo; a porta, que representa a interação entre ela e o mundo; e o iaumo, que representa o centro de consciência da pessoa - que as tradições mágicas constroem o arcabouço de conhecimento que faz com que seja possível, a partir das ações dentro de Neborum, influenciar as pessoas em Heelum. Mas isso não seria possível se Neborum não funcionasse, fisicamente, de uma maneira completamente diferente de Heelum.

Vivendo em Neborum

Neborum, não sendo uma realidade física como Heelum, não funciona da mesma forma. Tudo pode ser rearranjado e manipulado: iaumos podem correr mais rápido do que o corpo representado corre em Heelum; podem pular mais alto, rachar e dividir o chão, cair de grandes alturas sem se machucarem, "misturar-se" com o castelo a fim de reforçar o exterior do mesmo contra ataques, entre outros. Existem certas limitações quanto ao que se pode fazer - limitações impostas pela própria forma como se experimenta o espaço e o tempo, já que a cognição humana é a mesma que em Heelum. Não se pode viajar no tempo ou pará-lo; não se pode teletransportar para outro lugar. Por outro lado, matéria e "elementos" (como fogo, água, metal) podem ser conjurados e manipulados.

O controle dessa realidade se dá através de uma complexa relação entre conhecimento e intenção, com um profundo elemento social. Assim como as "leis da física" são outras, também é outro o nível de interação com a realidade - não se trata de fisicamente tocar, imprimir forças em objetos ou usar máquinas para realizar operações químicas a níveis microscópicos: interage-se com a realidade a partir dos seguintes fatores:

  • Visualização do que se queira fazer (incluindo consequências);
  • Intenção (objetivo) do que se queira fazer; e
  • Conhecimento prévio do que se queira fazer

Virtualmente quase tudo (como discutido acima) é possível em Neborum. No entanto, não é possível fazer algo simplesmente porque se quer fazê-lo. Através de um exemplo pode-se demonstrar melhor essa dinâmica:

Se se quer produzir fogo, não há ainda uma referência para o novato - em Heelum fazer fogo significa usar instrumentos, não querer fazer fogo. Não se sabe por onde começar. Supondo que o novato pense que apenas o querer é preciso, independente da prática: ele ainda não sabe o que esperar de sua técnica. Nesse sentido não é capaz de visualizar o que quer fazer. Que tipo de chama quer? Por onde ela deve sair, pela mão, pelo pé, pelos ouvidos? A chama vai queimá-lo, ou ele é imune ao próprio fogo? Sem um sistema definido de crenças quanto ao que irá acontecer - sem expectativas técnicas quanto ao resultado de sua intenção - ele não conseguirá realizar a técnica. Supondo que ele tenha se decidido quanto ao que ele quer, e tenha pensado em um conjunto de expectativas e parâmetros, tudo aquilo que vier a gerar dúvida ou for ambíguo quanto às próprias especificações vai gerar uma técnica incompleta ou simplesmente errada. No caso do fogo, ele pode não queimar o iaumo em si, mas acabar causando fogo às roupas - o que naturalmente vai espantar e causar dúvida no mago novato.

Por isso o aspecto social é fundamental: o ensino da magia se dá primariamente através da tutoria individual (relação entre mestre e discípulo) porque o mestre determina um quadro de referências seguro, gerando expectativas razoáveis e um ambiente controlado de metas. Uma regra de ouro informal do ensino da magia é que só é possível fazer algo quando o mestre diz que é possível fazer.

A experimentação e criação de técnicas reflete esta realidade de maneira ainda mais clara. Apenas magos mais experientes conseguem formular novas técnicas, porque como eles acumularam várias técnicas ao longo da vida, eles "mapearam" bem o território de possibilidades - têm uma noção das técnicas que aprenderam e usaram (e o que resulta delas), então sabem o que ainda não fizeram e formam conjecturas, chutes informados sobre qual pode ser o resultado - isso, no caso, quando se fala de técnicas a serem usadas dentro dos castelos (que causam efeitos nas pessoas). Os resultados de subsequentes testes lhes informam novos parâmetros e expectativas, e assim uma nova técnica é moldada: quando o mago a transmite para um discípulo, ela aparece como um sistema pronto, uma versão sólida e coerente daquilo que para o mestre aparece como fruto suado de muita "tentativa e erro" - para o discípulo, não há dúvidas quanto a intenção, execução, resultado esperado - e a confiança gera resultados positivos.

É a partir dessa combinação de fatores - física diferente e interação diferente com a realidade - que Neborum se torna um ambiente hostil, no sentido cognitivo, para um novato. Na maioria das vezes o que se vê são formas e cores caleidoscópicas, sons variados e incompreensíveis, um corpo sem sensitividade e em formatos, tamanhos, proporções irreconhecíveis - a vontade de falar suprimida por uma voz que não se realiza, palavras que não existem suplantando conceitos que não conseguem ser lembrados, dores de cabeça fazendo latejar a testa que não consegue ser afagada pela mão pois não se sabe onde está a mão num espaço irreconhecível.

A transição, portanto, é dolorosa e leva tempos diferentes para pessoas diferentes, com processos de adaptação diferentes.

Em geral, primeiro acostuma-se a estar em Neborum - e quando a realidade de Neborum parece tão estável quanto a de Heelum, a pessoa (na condição de iaumo) pode tentar se movimentar e estudar o ambiente em volta. A questão é que vai fazê-lo de forma tal que vai estar completamente absorta; a não ser que sua atenção seja bruscamente chamada em Heelum, ela não consegue ouvir, ver ou sentir nada de lá - sua atenção ou está toda em Neborum ou toda em Heelum; quando Neborum é acessado é como se toda a consciência fosse transferida para lá, e então é preciso "voltar" para Heelum e, ao fazê-lo, desligar-se completamente de Neborum até a próxima vez em que se "vai para lá".

O próximo passo é isolar ainda mais essas realidades - pois, por mais que a consciência se limite a apenas uma das realidades, o que a pessoa faz enquanto é iaumo, em Neborum, muitas vezes se reflete em espasmos e movimentos descuidados em Heelum - se o iaumo se levanta do chão e começa a andar em Neborum, é possível que a pessoa inadvertidamente levante-se e comece a andar em Heelum também, podendo tropeçar, cair, bater em alguma coisa, etc - momento no qual certamente sentirá um grande furor e toda sua consciência será trazida de volta a Heelum. Nesse sentido, é preciso fazer com que a pessoa movimente-se em Neborum sem que seu corpo se mova em Heelum. Isso é importante porque quando o aprendiz estiver mais acostumado a Neborum e for capaz de viver simultaneamente em Heelum - ou pelo menos trocar mais rápido de realidade, sem sobressaltos, sem dificuldades, sem tonturas - é preciso que seu corpo em Heelum não reflita as coisas que ele faça em Neborum.

O passo seguinte é de fato acostumar a pessoa a agir de modo "multitarefa" - nesse caso, "multiatenção". Começa-se por alternar repetidamente entre Heelum e Neborum, até que enfim a consciência consiga estar atenta ao que acontece em Heelum e também ao que acontece em Neborum. O nível de habilidade quanto a isso difere vastamente entre os magos, com os mais habilidosos sendo capazes de fazer uma atividade que requer intensa atenção em Heelum e ao mesmo tempo fazer também uma atividade intensa em Neborum - às vezes com o iaumo multiplicado, com cada uma das instâncias fazendo algo complexo. É como fazer duas coisas ao mesmo tempo, mas deve-se levar em conta que acessar Heelum e Neborum ao mesmo tempo significa levar em consideração duas experiências visuais, duas experiências auditivas, duas experiências sensoriais. É um processo longo e complexo, e muitos magos chegam apenas a um estágio de alternar rapidamente entre as realidades, ou deixar a atenção em apenas um estado de "sobreaviso".

O acesso a Neborum é espontâneo e, assim como as interações da pessoa com Neborum quando já está em Neborum, depende dos mesmos aspectos acima discutidos. Isso é particularmente visível no que tange ao primeiro acesso a Neborum: em geral é preciso que alguém diga a outra pessoa o que é Neborum e incentive a pessoa a querer ir até lá - e um pouco de introspecção e confiança nessa realidade virtual (é essencial acreditar, portanto, que o que o mestre está dizendo é real) faz com que a pessoa consiga acessar Neborum. Há casos (e isso é muito mais comum que descobrir uma técnica por acidente quando já há formação mágica, por exemplo) em que algumas pessoas acidentalmente acessam Neborum (um acesso inesperado e repentino); a maioria, nesses casos, não sabe como reagir, interpreta como um sonho de uma soneca em um dia de cansaço desigual, ou encara com medo a experiência (já que é dolorosa, estranha, e não há alguém que explique e faça compreender o que se passa).

Invasões e ataques: O castelo, a porta e o iaumo

A magia em si não se restringe apenas ao acesso a Neborum: as coisas que se faz lá podem ser direcionadas para a interação entre as pessoas, e é isso que as tradições mágicas estabelecidas fazem - como a maioria das pessoas não acessam Neborum, são presas fáceis para técnicas que as influenciam sem que elas tenham conhecimento da influência sofrida.

A primeira coisa que se deve fazer para influenciar alguém é invadir seu castelo. Este é um pressuposto essencial: não se pode infuenciar alguém em Heelum a partir de Neborum sem entrar no castelo da pessoa. Este acesso, por sua vez, só pode ser feito pela porta: mesmo que haja uma janela aberta, por exemplo, um iaumo estranho não conseguiria entrar por ela para dentro de um castelo. A única passagem é a porta. Se ela estiver aberta, desprotegida, destrancada - isso apenas significa que a passagem acabou sendo fácil, mas ainda assim foi feita pela porta. Quando a porta está trancada é preciso de alguma forma burlar a proteção. Cada tradição tem uma maneira diferente de fazer isso.

Uma vez que o iaumo está dentro de um castelo de outra pessoa poderá fazer ali alguma técnica que cause a influência desejada - no caso das tradições cujo foco é o uso de técnicas. Os espólicos, por exemplo, não têm técnicas a princípio: o interior do castelo não os interessa, só o que é importante é encontrar o iaumo daquele castelo, pois a única técnica verdadeiramente espólica consiste em dominar o iaumo e, a partir daí, controlar as ações do corpo da pessoa em Heelum. Já as técnicas requerem uma série de fatores: muitas vezes requerem a reordenação de objetos, móveis, estruturas do castelo invadido; em outras situações requerem a conjuração de novos objetos no interior do castelo invadido, e em algumas outras vezes ainda requerem que a técnica seja realizada em um espaço específico, como uma sala em especial.

Se o castelo invadido é o de um não-mago, o resultado é que a invasão costuma ser um assunto simples. O iaumo adormecido dentro do castelo invadido não causará problemas; não interromperá o processo. A complicação ocorre quando se quer invadir o castelo de um mago. Com a atenção já acostumada a se manter em Neborum, mesmo que em menor escala, há sempre o perigo de o mago perceber que o castelo está sendo invadido. Há ainda, é claro, a possibilidade ainda anterior de que o mago já esteja com medo de um ataque e preste atenção a Neborum quando na presença de outros magos.

Nesses casos - em que a diplomacia já foi grandemente esquecida, pois a invasão ou a tentativa de invasão já se trata de dispensar o diálogo como opção - o que se desenrola é uma luta. Cada tradição também é marcada por técnicas específicas de luta. É válido lembrar de aspectos previamente mencionados no artigo: em primeiro lugar, como a física de Neborum é diferente, a luta também costuma ser bem diferente. Em segundo lugar, é preciso lembrar que danos fatais causados a um iaumo apenas farão com que ele desapareça, reaparecendo logo a seguir dentro de seu castelo, apenas mais enfraquecido pelo ataque - o iaumo só morre definitivamente com a morte da pessoa em Heelum.

Defesa e resistência

A rigor, a forma de se defender dos ataques em Neborum é, em primeiro lugar, defender o castelo. Há várias formas de se ativamente fazer isso. Os magos devem estar sempre atentos para o estado do portão do castelo: deve estar bem trancado, e com o conhecimento certo é possível criar mais trancas para a porta ou torná-la mais espessa, dificultando sua abertura, aumentando sua resistência a ataques brutos. No caso dos não-magos, pessoas com características como autoconfiança, orgulho, comprometimento, etc, mais acentuadas tornam a invasão uma operação mais difícil para o mago.

Uma vez que o castelo é invadido a luta é trazida para dentro do castelo invadido no caso dos magos. No caso dos não-magos, em geral seus iaumos são adormecidos e portanto nada podem fazer para impedir a realização da técnica. Alguns iaumos podem estar ativos e vigilantes, embora sem um controle maior do próprio iaumo através do acesso a Neborum o mago invasor precisa apenas neutralizá-lo para seguir em frente com o procedimento.

O terceiro momento da resistência é o posterior à realização da magia. Tanto no caso dos magos quanto no dos não-magos a resistência não-mágica pode ocorrer; nesse sentido, é preciso entender que ataques mágicos são influências, mas não são intervenções irresistíveis. Um mago bomin, por exemplo, ao fazer com que alguém sinta alguma coisa, não vai negar toda a autonomia da pessoa controlada. Se a pessoa, por exemplo, começar a se sentir fisicamente atraída por alguém, ela pode questionar a própria atitude e se negar a agir de acordo com aquele sentimento, mesmo que continue sentindo-o. Se uma outra pessoa começar a achar que é uma boa ideia ir para um hotel ao invés de voltar para casa, pode preferir acreditar nos seus sentimentos de que há alguma coisa errada com essa decisão e não fazer isso, mesmo que não consiga pensar em um argumento contrário a essa decisão.

Isso gera uma situação de conflito em que o mago pode tentar reforçar (ao refazer ou repetir várias vezes) a técnica para intensificar o resultado almejado até que a pessoa seja "convencida" a fazer o que se quer. Não há possibilidade de vitória permanente contra uma invasão: a pessoa tem que continuar resistindo, sem ter consciência da questão mágica, aos impulsos ou pensamentos que lhe foram obrigados pelo invasor até que a magia não tenha mais efeito. Se a situação ficar muito intensa sem uma resolução (se a pressão do mago for grande, mas a resistência da pessoa também) isso pode levar a confusão, angústia e incerteza profundos, o que pode resultar na determinação de inação por parte da pessoa invadida - ela se recusa a fazer qualquer coisa por não conseguir compreender a si mesma, não se sentindo segura para tomar qualquer decisão quanto àquilo; esse cenário é dificilmente aonde o mago deseja chegar. No caso dos magos espólicos, a pessoa, maga ou não, pode tentar resistir ao comando de seu corpo. O ataque espólico sempre é, portanto, uma espécie de queda de braço; é literalmente uma luta de vontades. Como é preciso exercitar o domínio muito bem para que ele seja eficaz e para que a chance de sobrepor as maiores resistências seja maior, os espólicos focam-se tanto nessa técnica a ponto de não confiar majoritariamente em nenhuma outra, e o treino é focado completamente neste procedimento.

Os magos têm alguma vantagem na resistência pós-técnica. A consciência da magia é um fator que ajuda no processo de resistência descrito nos parágrafos acima, razão pela qual os magos bomins costumam ser mais facilmente atacados por preculgos e vice-versa: como os bomins só têm consciência exata das técnicas que seus pares podem produzir, eles sabem a que sinais devem prestar atenção para saber se foram invadidos ou não. Como não sabem o que esperar dos magos de tradição diferente, se o mago for sutil o bastante a desconfiança quanto a um ataque não é suscitada.

A consciência ativa da magia (um mago que vê uma técnica ser executada dentro do próprio castelo) também, como acima discutido, contribui para a resistência contra o efeito. A pura desconfiança de que uma técnica foi realizada, mas sem evidência, não necessariamente faz com que o efeito suma (embora possa aumentar a desconfiança da pessoa e, nesse sentido, a resistência ativa). O mago deve então procurar pelo seu castelo sinal de uma magia realizada, se ele conhecê-la e portanto souber identificá-la, para de alguma forma desfazê-la a fim de desfazer seus efeitos.

Alorfos, filinorfos e as novas técnicas

Apesar deste artigo não tratar especificamente e separadamente de cada tradição, faz-se útil incluir uma nota sobre técnicas mágicas mais recentes que invertem um pouco a lógica dos procedimentos de Neborum. A atuação das tradições mágicas mais antigas fez valer a máxima de que não existe magia defensiva: a magia por definição seria ofensiva. Mas os alorfos, e mais tarde os filinorfos, esforçaram-se por ir além dessas limitações - por considerarem-nas puramente ideológicas e teóricas ao invés de práticas. Como resultado, desenvolveram uma série de técnicas defensivas ou que simplesmente alteram Neborum de maneira estratégica sem configurar uma invasão propriamente dita de castelos alheios. Entre elas podemos encontrar a célebre ocultação de castelos, em que um mago, convidado a entrar no castelo de outro, é capaz de tornar o castelo "invadido" invisível para quem venha a acessar Neborum nas imediações. Enquanto os dois magos estiverem nas proximidades a magia tem efeito. Outras magias incluem algumas já exemplificadas pelo volume I, como duas utilizadas por Kerinu na batalha contra Tornero e Byron: uma magia de contra-ataque (que usa a energia do ataque inimigo e a maximiza no sentido oposto) e uma que prende o mago atacado em seu próprio castelo, impossibilitando-o de sair de sua própria morada em Neborum.

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