A sentença dos reis (Agência): mudanças entre as edições

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<p style="padding: 10px; background-color:lightgrey;"><i>"Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757, a pedir perdão publicamente diante da poria principal da Igreja de Paris aonde devia ser levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; em seguida, na dita carroça, na praça de Greve, e sobre um patíbulo que aí será erguido, atenazado nos mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e às partes em que será atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento."</i><br><br>Michel Foucault, <i>Vigiar e Punir</i></p>
'''A sentença dos reis''' é uma carta estrutural do [[Deck Principal]] do jogo Agência, de ideologia [[Amarelismo|amarelista]]. Ela faz com que o jogador da vez escolha um adversário para comprar até 4 cartas (o jogador da vez escolhe a quantidade de cartas a serem compradas).
==Dinâmica do jogo==
''A fazer''
===Modificações===
''A fazer''
==O significado da carta==
Esta carta representa a monarquia enquanto estrutura social e política, mais especificamente os sistemas de poder absolutistas / autocráticos em que a figura do rei / da rainha concentra enorme poder. Assim, uma característica marcante das monarquias é a prerrogativa do/a soberano/a de punir seus súditos, especialmente de formas cruéis e públicas. Como coloca David Graeber<ref name="graeber2011">GRAEBER, D. The divine kingship of the Shilluk: On violence, utopia, and the human condition, or, elements for an archaeology of sovereignty. HAU: Journal of Ethnographic Theory, v. 1, n. 1, p. 1-62, 2011. p. 48-49.</ref>, seres humanos têm uma certa tendência a associar a violência arbitrária à divindade; o autor especula que o fenômeno pode estar relacionado à desproporção do ato: "leva décadas para dar forma e levar um ser humano a sua fase adulta; alguns segundos para reduzir tudo isso a nada ao atravessá-lo com uma lança". Esta é a principal característica das monarquias retratada no efeito da carta.
No entanto, uma monarquia não necessariamente cancela todas as possibilidades de reação e contraposição ao poder real. Além do fato de que o poder de uma única pessoa, frente a toda uma população, depende de toda uma estrutura hierárquica de relações e de uma rede específica de sustentação (uma corte - como discutia, por exemplo, Maquiavel), "rituais de sacralização", ao separar o sagrado do mundano a partir de uma lógica de gestos de respeito, podem ajudar a conter a influência e o alcance de um rei/uma rainha, pois gestos de respeito limitam a liberdade dos agentes se muito exigentes (um rei/uma rainha pode ser ''tão sagrado/a'' que não pode sequer sair de seu palácio, por exemplo)<ref name="graeber2011" />.
Como relata Morgan<ref>MORGAN, E. S. Inventing the People: The Rise of Popular Sovereignty in England and America. Nova Iorque: W. W. Norton & Company, Inc., 1989. p. 18-21. </ref>, algo semelhante ocorre na soberania divina inglesa no século XVII-XVIII. Quando o princípio de soberania divina reinava supremo, essa “ficção” servia como "instrumento que dava aos muitos uma medida de controle sobre o homem ao qual a ficção parecia sujeitá-los tão absolutamente"; nas primeiras décadas do século XVII a figura do rei divino havia sido tão exagerada que o rei “quase não podia se mover sem fraturar sua divindade”, e a Câmara dos Comuns dirigia o governo através de sua própria sujeição: para que o rei aprovasse uma determinada medida, os discursos assumiam um tom de sugestão acompanhado da reafirmação do poder real: "Como o rei é justo e perfeito, certamente fará isso... O rei é o representante de Deus na Terra, e Deus não faria outra coisa a não ser isto...".
De maneira tangencialmente análoga, como uma das consequências da carta (no jogo) é "armar" um adversário com cartas ao mesmo tempo em que este é prejudicado, o jogador que tem essa carta por estrutura deve tomar cuidado para não distribuir punições muito severas - sob pena de tornar-se objeto de atenção de "lideranças" e "revoltas" (análogos a elites que prefiram outro sistema político, ou a setores do povo que se insurjam diretamente contra a opressão) ou ainda "novas gerações" (análogos a usurpadores do trono).
===Imagem de fundo===
==Estratégia==
''A fazer''
==Ver também==
A fazer
<references />

Edição das 16h47min de 4 de abril de 2019

A sentença dos reis
Número 001
Tipo Estrutural
Deck Principal
Ideologia Amarelismo
Efeitos Compra de cartas; afeta somente adversário(s)
Primeira aparição 1.180416

"Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757, a pedir perdão publicamente diante da poria principal da Igreja de Paris aonde devia ser levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; em seguida, na dita carroça, na praça de Greve, e sobre um patíbulo que aí será erguido, atenazado nos mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e às partes em que será atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento."

Michel Foucault, Vigiar e Punir

A sentença dos reis é uma carta estrutural do Deck Principal do jogo Agência, de ideologia amarelista. Ela faz com que o jogador da vez escolha um adversário para comprar até 4 cartas (o jogador da vez escolhe a quantidade de cartas a serem compradas).

Dinâmica do jogo

A fazer

Modificações

A fazer

O significado da carta

Esta carta representa a monarquia enquanto estrutura social e política, mais especificamente os sistemas de poder absolutistas / autocráticos em que a figura do rei / da rainha concentra enorme poder. Assim, uma característica marcante das monarquias é a prerrogativa do/a soberano/a de punir seus súditos, especialmente de formas cruéis e públicas. Como coloca David Graeber[1], seres humanos têm uma certa tendência a associar a violência arbitrária à divindade; o autor especula que o fenômeno pode estar relacionado à desproporção do ato: "leva décadas para dar forma e levar um ser humano a sua fase adulta; alguns segundos para reduzir tudo isso a nada ao atravessá-lo com uma lança". Esta é a principal característica das monarquias retratada no efeito da carta.

No entanto, uma monarquia não necessariamente cancela todas as possibilidades de reação e contraposição ao poder real. Além do fato de que o poder de uma única pessoa, frente a toda uma população, depende de toda uma estrutura hierárquica de relações e de uma rede específica de sustentação (uma corte - como discutia, por exemplo, Maquiavel), "rituais de sacralização", ao separar o sagrado do mundano a partir de uma lógica de gestos de respeito, podem ajudar a conter a influência e o alcance de um rei/uma rainha, pois gestos de respeito limitam a liberdade dos agentes se muito exigentes (um rei/uma rainha pode ser tão sagrado/a que não pode sequer sair de seu palácio, por exemplo)[1].

Como relata Morgan[2], algo semelhante ocorre na soberania divina inglesa no século XVII-XVIII. Quando o princípio de soberania divina reinava supremo, essa “ficção” servia como "instrumento que dava aos muitos uma medida de controle sobre o homem ao qual a ficção parecia sujeitá-los tão absolutamente"; nas primeiras décadas do século XVII a figura do rei divino havia sido tão exagerada que o rei “quase não podia se mover sem fraturar sua divindade”, e a Câmara dos Comuns dirigia o governo através de sua própria sujeição: para que o rei aprovasse uma determinada medida, os discursos assumiam um tom de sugestão acompanhado da reafirmação do poder real: "Como o rei é justo e perfeito, certamente fará isso... O rei é o representante de Deus na Terra, e Deus não faria outra coisa a não ser isto...".

De maneira tangencialmente análoga, como uma das consequências da carta (no jogo) é "armar" um adversário com cartas ao mesmo tempo em que este é prejudicado, o jogador que tem essa carta por estrutura deve tomar cuidado para não distribuir punições muito severas - sob pena de tornar-se objeto de atenção de "lideranças" e "revoltas" (análogos a elites que prefiram outro sistema político, ou a setores do povo que se insurjam diretamente contra a opressão) ou ainda "novas gerações" (análogos a usurpadores do trono).

Imagem de fundo

Estratégia

A fazer

Ver também

A fazer

  1. 1,0 1,1 GRAEBER, D. The divine kingship of the Shilluk: On violence, utopia, and the human condition, or, elements for an archaeology of sovereignty. HAU: Journal of Ethnographic Theory, v. 1, n. 1, p. 1-62, 2011. p. 48-49.
  2. MORGAN, E. S. Inventing the People: The Rise of Popular Sovereignty in England and America. Nova Iorque: W. W. Norton & Company, Inc., 1989. p. 18-21.