Editando Capítulo 20 do Volume 2: Rotina (Controlados)

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Em "Rotina", ...

{{TransNO}}

==Personagens==

''A fazer''

==Capítulo comentado==

{{Spoiler}}

<div style="text-indent:1.5em">
<html>
<p style="text-align: justify;">Fjor encostou a cabeça na parede acima da cama no quarto do irmão. De peito nu no calor que se alastrava pela cidade, olhava para o vazio com a mesma raiva entediada dos últimos dois ou três dias.</p>
<p style="text-align: justify;">Leo sentava-se com os pés na ponta da cama. A cadeira não era confortável, mas já havia se acostumado. Lia um livro sobre música tradicional que, depois de muita súplica por alguma distração escrita, Seimor não tinha conseguido para ele --- teve que pegar emprestado de um vizinho.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Eu quero sair desse hotel... --- Murmurou Fjor.</p>
<p style="text-align: justify;">Leo fechou o livro tão rápido que nem pareceu ter prestado atenção ao que lera nas últimas páginas. Jogou-o do lado dos pés e admirou, agoniado, a luz murcha que as cortinas filtravam.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Eu acho que vou ver a Leila. --- Disse Leo, ainda voltado para as cortinas.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Você já teve coragem para falar com ela?</p>
<p style="text-align: justify;">Leo balançou a cabeça.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Não... Desde aquela briga e... --- Limitou-se a continuar negando com o corpo.</p>
<p style="text-align: justify;">Foi a ver de Fjor balançar a cabeça, mais singelo.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Vai lá falar com ela... --- Disse, arranjando o travesseiro pastel para se deitar de novo.</p>
<p style="text-align: justify;"></html>[[Arquivo:Contrologo.png|31px|center]]<html></p>
<p style="text-align: justify;">Leila sabia que não era Seimor. Seimor tinha uma chave.</p>
<p style="text-align: justify;">Abriu a porta, seu velho vestido vermelho surpreendendo Leo.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Faz... Tempo que você não usa isso. --- Comentou ele, sorrindo.</p>
<p style="text-align: justify;">Ela deu de ombros, tentando sorrir de volta.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Posso entrar?</p>
<p style="text-align: justify;">--- Uhum.</p>
<p style="text-align: justify;">Leo sentou-se à cama, sem saber o que dizer. Leila passou por ele e foi até a cadeira, posta na mesma posição que no quarto dele. Levantou os pés, e o espaço do assento permitia que os guardasse atrás da coxa direita. Apoiou os antebraços nos braços da mobília, jogando um olhar quieto sobre a mesinha de canto bege logo ao lado.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Você tem falado com o Beni?</p>
<p style="text-align: justify;">Sua primeira reação foi engolir em silêncio, e Leo achou que aquilo podia reviver a última briga entre os dois.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Não. --- Respondeu ela, simples. --- Desde aquele dia.</p>
<p style="text-align: justify;">--- O da... Do anúncio da guerra?</p>
<p style="text-align: justify;">Ela fez que sim, rápida.</p>
<p style="text-align: justify;">Leo deixou os ombros caírem, cansados daquela situação grudenta. Não sabia bem o que esperava. Aquele era o jeito dela de dizer que eles estavam bem?</p>
<p style="text-align: justify;">--- Você está tão quieta... --- Comentou ele, terminando a isca com uma risadinha.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Você também... --- Respondeu ela, sem tirar os olhos da mesinha.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Leila, nós... Estamos bem?</p>
<p style="text-align: justify;">Ela fez que sim, devagar, cada vez mais um novelo que ele não conseguia desfazer.</p>
<p style="text-align: justify;">Frustrado, Leo balançou o pé para frente e para trás. Ouviu um som de arrasto.</p>
<p style="text-align: justify;">Leila virou o rosto assim que ouviu o farfalhar do papel, e por um instante cheio de pavor olhou para Leo com a boca um pouco aberta; talvez esperasse que ele não tivesse ouvido.</p>
<p style="text-align: justify;">Leo se abaixou mais rápido do que a amiga conseguiu pular da cadeira; examinou o que tinha nas mãos por um segundo antes de precisar cair para trás na cama para tirá-lo do alcance de uma Leila absolutamente desesperada.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Leo, devolve, devolve isso...</p>
<p style="text-align: justify;">--- Lei... Leila, <em>calma</em>...</p>
<p style="text-align: justify;">A vocalista subiu na cama com os cotovelos, agarrando de cada vez os braços, a camisa, o pescoço e o cabelo de Leo até conseguir se ajoelhar na cama.</p>
<p style="text-align: justify;">Mas Leo já estava de pé, com os olhos vidrados no papel proibido --- era <em>exatamente</em> o que era óbvio que era. Não conseguia sequer olhar para o rosto entortado de Leila.</p>
<p style="text-align: justify;">--- <em>Leo</em>... --- Gemia ela.</p>
<p align="CENTER"><em>Era um sonho que não tinha fim</em></p>
<p align="CENTER"><em>Até a raiz em que o momento era ruim</em></p>
<p align="CENTER"><em>Foi assim</em></p>
<p align="CENTER"><em>Que morri</em></p>
&nbsp;
<p align="CENTER"><em>Cada sorriso era falso e o olhar</em></p>
<p align="CENTER"><em>Via por dentro e começou a duvidar</em></p>
<p align="CENTER"><em>Que não há</em></p>
<p align="CENTER"><em>Mais culpa</em></p>
&nbsp;
<p align="CENTER"><em>Deixar o quarto e chegar até o portão</em></p>
<p align="CENTER"><em>Tinha certeza de não precisar de chão</em></p>
<p align="CENTER"><em>Vou cair</em></p>
<p align="CENTER"><em>Vou ruir</em></p>
&nbsp;
<p align="CENTER"><em>Se não me encontrar e não me reunir</em></p>
<p align="CENTER"><em>Cada escolha que eu fiz me dá terror</em></p>
<p align="CENTER"><em>Cada momento escolhido é um horror</em></p>
<p align="CENTER"><em>Então me diz que isso</em></p>
<p style="text-align: justify;">O último verso terminava com uma rasura.</p>
<p style="text-align: justify;">A mão de Leo não tremia. Firme à frente do rosto, entregou o papel a Leila, que o pegou de volta com cuidado.</p>
<p style="text-align: justify;">Só então Leo conseguiu olhar para ela. Por um momento ela parecia de novo sua parceira de letras --- que lhe mostraria algo e, ansiosa, pegaria a folha de novo com todo aquele cuidado porque realmente se importava com o que ele achava. Tinha uma expectativa cheia de cumplicidade quanto à qualidade do que escrevia. Ela <em>queria</em> ganhar a admiração de Leo; era a única peça que faltava para considerar a música digna de ser tocada.</p>
<p style="text-align: justify;">Mas olhou de novo. Com cuidado, escutando as sombras das olheiras da companheira. Ela não tinha medo de Leo rejeitar a letra. Não era só mais uma música; ler aquilo era como ler o que quer que estivesse acontecendo dentro dela.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Ficou...</p>
<p style="text-align: justify;">Pensou em pedir para ler a letra de novo. Já havia quase se esquecido de tudo.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Linda.</p>
<p style="text-align: justify;">Leila abaixou os olhos machucados, apertando o lado do papel com dedos enganchados, como se pudesse a qualquer momento amassar a folha inteira e jogá-la na parede com força.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Eu não consigo entender, Leila, é... Tão... <em>Triste</em>...</p>
<p style="text-align: justify;">Quanto mais Leo pensava naquilo, mais pedaços da letra voavam de volta em sua direção. Lembrava-se de morte, de escolhas erradas. Da porta de um quarto...</p>
<p style="text-align: justify;"><em>Sorrisos falsos?</em></p>
<p style="text-align: justify;">Leo balançou a cabeça, encostando-se à parede quase dentro do pequeno corredor até a porta de saída.</p>
<p style="text-align: justify;">Leila olhava para o papel, com sorte de ainda estar inteiro.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Pra você isso é igual a morrer? --- Perguntou ele.</p>
<p style="text-align: justify;">Eles tinham uma carreira toda pela frente. Aquilo não era um <em>exagero?</em></p>
<p style="text-align: justify;">--- Você tem que ir embora, Leo...</p>
<p style="text-align: justify;">Ele sabia que Beneditt e Fjor podiam não gostar mais tanto do tipo de música que faziam, mas... Ele nunca imaginou que Leila fosse ficar tão chateada com aquilo. Não daquele jeito, não a ponto de...</p>
<p style="text-align: justify;">--- Você <em>tem que ir embora</em>, Leo...</p>
<p style="text-align: justify;">Assim que ele deixou o quarto com passadas lentas, sem dizer nada, ela amassou o papel com a música. Arrependeu-se, mas jogou-o no vão entre a cama e a parede da janela mesmo assim.</p>
<p style="text-align: justify;"></html>[[Arquivo:Contrologo.png|31px|center]]<html></p>
<p style="text-align: justify;">Só o que ela fazia, toda noite, era esperar. Se não conseguia rabiscar uma outra letra --- pra se juntar às dezenas debaixo da cama, perto daquela que por azar ficou um pouco mais para fora --- só olhava para os móveis e tentava adivinhar se ia demorar muito. Ou se naquela noite ele não viria.</p>
<p style="text-align: justify;">Às vezes pensava em uma espada entrando, lenta e brilhante, no peito de Seimor. No peito ou em outras partes do corpo dele que ela conhecia.</p>
<p style="text-align: justify;">Foi um hábito que adquirira há cerca de cinco ou seis dias. Hábito bom, considerando a alternativa, que era também esperar --- mas só até o zumbido do ouvido, que não deixava nunca nada no silêncio, fazer ela chorar agarrando as próprias canelas.</p>
<p style="text-align: justify;">Mas hoje já não fazia isso. Só esperava.</p>
<p style="text-align: justify;">Ela não sabia como era uma espada, ou como exatamente ela "entrava" em alguém. Nunca tinha visto nada assim.</p>
<p style="text-align: justify;">Quase não ouviu quando a porta abriu. Seimor entrou, logo tirando a capa leve de cima das vestes arroxeadas --- uma das prováveis três ou quatro coisas que estava vestindo --- e, olhando com a boca reta para Leila, pôs as mãos na cintura.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Acho que vocês vão tocar em breve.</p>
<p style="text-align: justify;">Ela se concentrava na parede.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Achei que fosse gostar de saber.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Por quê? --- Disparou ela. --- Por que você continua? Por que <em>eu?</em></p>
<p style="text-align: justify;">A única coisa que mudou na fisionomia de Seimor foi a boca, que mexia como se ele a revirasse por dentro.</p>
<p style="text-align: justify;">--- Não estou com a menor vontade de falar sobre isso. Não estou com a menor vontade de <em>falar</em>, Leila.</p>
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