Capítulo 34 do Volume 1: Mal educados (Controlados)
"Mal educados" é o trigésimo-quarto capítulo do Volume 1 da série Controlados (A Aliança dos Castelos Ocultos). É o último capítulo da Parte III do livro.
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Personagens[editar]
A fazer
Capítulo comentado[editar]
--- Pare.
Byron e Tornero estavam do lado de dentro da carruagem laranja do mestre. O silêncio, quente e nervoso, atravessava as paredes, as portas e as janelas vedadas por cortinas cor-de-lavanda. Estavam em um lugar ao leste da cidade, com algumas baixas colinas separando-os do Rio da Discórdia.
--- Chame um deles aqui.
--- Acredito que sim, mestre, mas se eles não estiverem...
O que Tornero diria?
--- CHAME UM DELES AQUI, Tornero! --- Ralhou Byron, furioso.
Tornero gostava dos riscos e sabia que não seria realmente difícil conseguir aquilo, mas o problema naquele momento era o fino equilíbrio que a relação entre Byron e ele sempre exigira. Um era tipicamente o homem da estratégia, enquanto o outro jamais se cansaria de ser aquele a sentir o fogo da batalha arder à frente do próprio rosto. Mas Tornero sentia-se terrivelmente amedrontado quando convivia com o lado perturbado do mestre, que vinha à tona quando ele era contrariado. Sentia-se pego pelos calcanhares com um golpe rápido e indefensável, e tudo o que podia fazer era se balançar como um peixe. Odiava se sentir daquele jeito.
Logo ouviram passos acelerados na grama, que acabaram quando a porta lateral da charrete se abriu bruscamente com um estalido fino. Uma mulher com cabelos longos, de um loiro sem brilho, olhou para o interior da charrete com olhos curvados, como se permanentemente cansados.
Byron tomou conta da situação, expulsando-o do castelo dela com as próprias mãos. Há um segundo estava próximo à alma daquela mulher, girando-a rudemente em uma ventania que ele não tinha paciência de moldar. A próxima coisa que percebera foi que estava rolando na grama, indo parar a vários pés da porta principal do castelo que invadira, dolorido e sujo. Fechou os olhos e esmurrou a grama.
A mulher entrou na charrete, sentando-se ao lado de Tornero cheia de reservas.
--- Quem é você? --- Perguntou Byron.
--- Enrita... --- Ela respondeu, distraída.
--- O que estão aprendendo?
Ela olhou para ele com as pupilas tremendo e o corpo acuado, que deixava claro sua vontade de fugir dali o quanto antes.
Agora, por outro lado, queria ficar.
Magia
--- Lamar contou histórias... --- Respondeu ela.
Histórias
--- O que estão aprendendo a fazer, sua ignorante! --- Respondeu ele. Ela desviou o rosto, assustada, enquanto ele gesticulava grosseiramente, entortando a boca ao falar. --- Em magia!
--- E-eu não sei, não é nada não, nós só... Fazemos uma s-sensação nos outros, d-de... De conforto, eu...
O rosto de Byron começou a se transformar.
--- Conforto? Vocês andam por Neborum normalmente?
Ritmo
A confusão no rosto da entrevistada se acentuou de forma aguda. Olhou por um instante para Tornero, que ainda estava arqueado para frente, pondo os cotovelos nos joelhos.
--- Neborum? O que é isso?
A consternação sumiu da face de Byron tão rapidamente quanto surgira, e um riso dormente tomou seu lugar.
--- Ouviu isso, Tornero? --- O pupilo assentiu discretamente. --- Eles não sabem o que é Neborum, Tornero.
Ignorância
Sua risada ficou cada vez mais cheia e satisfeita, mas nem por isso menos trôpega. Enrita o encarava com um tipo peculiar de vergonha. Não estava entendendo quase nada do que acontecia.
--- Pode ir, mulher. --- Disse Byron.
Sem pensar duas vezes, Enrita abriu a porta da charrete e saiu correndo para longe. A porta foi voltando devagar, sem ranger, ocultando para Tornero a visão da fugitiva.
--- Tranquilize-a, Tornero.
--- Estou fazendo isso.
--- Faça mais. --- Ordenou ele. --- ... Você estava certo, Tornero. Arranje tudo como quiser. Isto é uma permissão e uma ordem.
Antes do encontro parcialmente espontâneo com Enrita, Byron visitara Caterina. Pediu a Tornero que permanecesse na charrete, cuidando de qualquer atenção que lhe fosse dirigida. Andou decisivamente até a porta da alorfa, que a abriu antes mesmo que ele se anunciasse. Eles se viram, então. Em Neborum e ali, a um braço e meio de distância um do outro. Ela marcara sua posição como uma fortaleza do lado de dentro. Ele, do lado de fora, não fez menção de entrar.
Atenções
--- Você me deve uma explicação.
--- Você está surpreendentemente alterado para um bomin, Byron. --- Afirmou Caterina, tão assertiva quanto ele, cruzando os braços.
--- Sei usar o que sinto contra quem merece.
--- Você deve estar falando de Alice. --- Cortou Caterina. --- Ela foi o problema, não eu. Eu votei com você.
--- Quieta! --- Disse ele, num impulso.
--- Ou suas intenções são fáceis de descobrir --- continuou ela, desafiadora --- ou pensamos de forma parecida.
Ele deu um passo à frente. Ela bateu a porta à parede depois de uma leve recuada, afirmando-se com postura. Os dois se olhavam também, frente a frente, do lado de fora do castelo de cada um. Ele saíra primeiro, com mãos quentes de onde saía uma volumosa fumaça de fuligem; ela, com um longo chicote negro nas mãos, tentava disfarçar as pernas trêmulas ao regularmente trocar de lado o peso corporal.
--- É exatamente por isso --- replicou ele --- que nós dois não podemos ocupar a mesma cidade.
--- Você não pode me derrubar, Byron. E isso não é um desafio. É um fato.
Um vento seco atingia insidiosamente Neborum ao redor dos dois castelos.
--- Muitos me colocaram onde eu estou e eu não vou desistir de lutar esta luta. --- Continuou ela. --- Uma luta que muitos deles nem sabem que existe ou o que é.
--- Você não tem condições de ganhar essa luta. --- Ele abaixou o tom de voz, copiando o jeito passivo-agressivo da parlamentar. --- Prima-u-jir não é o seu lugar.
--- O meu lugar é onde eu estou.
--- Não. Você ainda não está no seu lugar.
Byron virou-se e começou a ir embora, desaparecendo de cena também em Neborum. O pulso de Caterina disparava, e ela sentiu uma onda de ousadia que não conseguiu impedir de explodir.
--- As pessoas estão acordando, Byron! --- Ele parou, ouvindo de costas. --- Você não pode controlar tantos por tanto tempo! As pessoas estão começando a entender como tudo funciona, Byron!
Ele recomeçou a andar. Caterina controlou a vontade de perguntar se ele havia entendido o que ela dissera, e entrou de novo no próprio castelo e na própria casa. Trancou ambas as portas.