Por que não há muitos símbolos importantes em Heelum? (Controlados)

De Wiki Petercast
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Esse é um dos aspectos mais importantes do "estilo" da série, de modo que aquilo que é de certa forma estético se imbrica numa questão de conteúdo - mesmo que nunca tenha deixado de sê-lo.

"— (...) Dar um nome para alguma coisa é como… É como dizer que ela existe. (...) — Mas algo não precisa ter um nome para existir. — Claro que não, é verdade. Mas como saber o que algo é sem um símbolo… Sem algo em que eu possa ancorar todo… Todo um conjunto de coisas e… E ser capaz de passar esse símbolo a você? (...) Enquanto algo não tem limites… Pode ser qualquer coisa. Se a nossa reunião tiver um nome… É como se reconhecêssemos o que ela é, e pra quê ela existe. Ela não temnome porque queremos que seja a coisa mais secreta possível." Conversa entre Jen e Richard no capítulo 21 do Volume I [sc name="cap21short"]

Heelum, apesar de analogia simbólica de diversos elementos de nossa vida contemporânea, contrasta fortemente com nosso mundo justamente pelo critério dos "símbolos". Vivemos em abundância de instituições com nomes próprios, siglas, e principalmente logotipos e marcas de toda sorte. Por cor, por tato, por som e por memória, incorporamos essas marcas e toda sua carga semiótica à nossa rotina e nosso fluxo de pensamento. Seria de se esperar que Heelum de alguma forma refletisse isso. O que ocorre é que a "secura" de Heelum nesses termos reflete em outro plano a abundância de marcas - ao refletir o esvaziamento do significado. Apesar de termos ideias e sensações associados às marcas, não há nada de intrínseco que faça essa conexão; é uma questão, em sua maior parte, de marketing e psicologia. Além disso, marcas geralmente fazem referências a personas ou pessoas jurídicas, não a seres humanos de carne e osso, verdadeiros destinatários dignos de adjetivos que mais e mais direcionamos a "cascas" corporativas e representações coletivas, sem muito apreço pelo cuidado de discernir se a característica do todo pode ser simplesmente presumida em suas partes. Para além disso, há o medo de que um mundo de marcas e logotipos pudesse empurrar a suspensão de descrença para muito perto do precipício. É claro que o rock já faz isso com relativa audácia, e também é claro para todos que estudam história que o mundo iletrado da Idade Média confiava no poder das imagens para difundir significados (lembre-se dos brasões). O merchandising já existia na época dos gladiadores, fato omitido do famoso filme de princípios do século XXI porque os produtores acharam que não era algo no qual a audiência acreditaria. O olhar deve ser voltado também, é claro, para a coerência interna e narrativa desse estado de coisas. A história dos humanos em Heelum, sua escala de valores, e a interação com a Rede de Luz - tudo isso pode ser citado como raiz de um certo sentimento que coibiu até um ponto a proliferação deste tipo de prática visual na cultura geral. A ausência de símbolos mais específicos que "cores" para os magos é um pouco mais óbvia. E, no caso das cidades, a ausência não é completa: Al-u-een possui um símbolo que você pode até levar para dentro de sua casa, e outros símbolos das cidades e de suas instituições já apareceram timidamente nas descrições da história.

"As mãos para trás, que encostavam nas costas dedos doídos de frio, indicavam calma. O gorro azul com o reconhecível símbolo de duas tochas acesas cruzadas em “X” sinalizava sua profissão." [sc name="cap38long"]

Em geral, apesar de não haver uma profusão de grandes símbolos visuais, não se pode esquecer de que no comércio e na vida comum das pessoas eles estão presentes - só não assumem proeminência narrativa.