Sistema de posse individual (Controlados)
O sistema de posse individual é um tipo de organização social que começou a predominar em Heelum a partir do final da terceira aurora. Adeptos do sistema pregavam o fim do coletivismo e do gerenciamento comunitário dos recursos, prática remanescente da origem dos humanos, em favor da construção do governo como um agente intermediário entre indivíduos "possuidores". O sistema tornou-se possível a partir dos desenvolvimentos do debate do ouro.
Causas
A Terceira Aurora, com o surgimento dos minérios após o desaparecimento da rede de luz, foi marcada por uma crescente transformação cultural advinda da desunião entre as cidades e, dentro delas, entre os grupos e os indivíduos. A atomização social resultante do colapso repentino de toda uma cultura (e, de certa forma, de toda uma linguagem), fez nascer uma visão muito mais individualista do ser humano. Além disso, o incipiente processo de divisão de trabalho que começou o fim da rede e luz também colaborou para essa nova cultura particular. A introdução, contudo, do ouro como mediação econômica e sua expansão pelas cidades fez crescer incompatibilidades entre, de um lado, um sistema de gerenciamento comum da vida pública (que incluía decisões sobre o uso de recursos, que eram comuns) e um sistema em que podia-se lucrar e se diferenciar a partir do trabalho e da inteligência. O esquema de produção e distribuição das cidades foi sendo visto como uma restrição desnecessária para o interesse comum, que poderia se regular sozinho, e a proposta da teoria seria uma alteração do papel do governo que, não precisando mais registrar e organizar a produção, tornar-se-ia mais conveniente para todos.
Desenvolvimentos
As primeiras cidades a aplicar a teoria na prática foram Den-u-tenbergo e Dun-u-dengo. Den-u-tenbergo desde então deu início a uma tradição elitista e exclusivista de governo que viria a se consolidar mais tarde, com o surgimento dos magos. A cidade, contudo, não conseguiu se tornar um expoente do comércio devido ao isolamento geográfico característico. A adoção do sistema do sistema de posse individual, contudo, fortaleceu a posição de Dun-u-dengo como centro comercial e produtivo de Heelum - posição já considerável devido ao grande controle do ouro que a cidade exercia desde meados da Terceira Aurora. A adoção inicial casou prosperidade para os negociantes e comerciantes, ajudando a capitalizar quem já havia, aproveitando as aberturas dos sistemas anteriores, acumulado o ouro em crescente circulação e relevância. O resto da população, contudo, se viu na condição de competidores individuais dentro de um sistema maior e menos organizado, recebendo novas responsabilidades pessoais (pela própria manutenção geral), embora com um menor esquema de apoio que os organizasse na distribuição dos bens e trabalhos que produziam. A transição, mais marcadamente injusta em Den-u-tenbergo e estável em Dun-u-dengo, embora tenha provocado mais pobreza e dissolução social, não causara a miséria que viria a se acentuar com a adoção mais ampla do sistema e, principalmente, com a ascensão dos magos. Polêmica justamente por seus resultados, tanto práticos quando axiológicos, a adoção mais ampla do sistema gerou um grande debate entre a teoria da escuridão e a teoria do renascimento social, que caracterizou fortemente a Quarta Aurora.
Simbolismo
Em certo sentido o sistema de posse individual pode se ligar largamente à tradição liberal de pensamento político e econômico, fazendo referência à história do capitalismo europeu, à teoria da acumulação primitiva de Marx, mas principalmente ao processo de conceitualização da economia mesma, de forma que as relações entre as pessoas devessem ser entendida de uma maneira específica. A transição de um modelo de economia socialmente controlada e regulada para uma economia baseada no interesse pessoal e em interações desreguladas traz um pouco também do comentário que Karl Polanyi faz sobre as economias das sociedades tradicionais e das diferenças entre elas e a economia ocidental contemporânea. Por fim, a expansão do uso do sistema, junto ao fato de que o surgimento da magia o acelerou, pode ser visto também como referência ao neoliberalismo. Por outro lado, o fato de que o elemento "magia" foi essencial para a expansão do sistema pode significar que o mercado, especialmente em condições em que as pessoas nele inseridas ainda estejam preocupadas com valores e questões sociais acima do próprio interesse, pode funcionar de acordo com o escopo no qual torna-se útil e eficiente, mas a partir do momento em que as pessoas começaram a manipular outras para obter ganho pessoal, o sistema foi transformado em coerção e controle social. Contudo, essa visão indica uma espécie de visão das ideias de livre mercado em que as ideias em si são boas, mas foram "distorcidas" por más atitudes, embora possa-se argumentar que a crescente cultura de interesse próprio levaria, com ou sem magia, à mentira e à manipulação por razões egoístas, e que essa cultura é indissociável à preponderância do livre mercado como mecanismo de organização econômica e social.