A Rede de Luz e o Surgimento dos Humanos (Controlados)
Os seres humanos surgiram em Heelum a partir da Rede de Luz.
Rede de Luz[editar]
A Rede de Luz é uma espécie de fluido energético luminoso. A rede é assim chamada pelas suas propriedades: elástica e compressível, pode se estender e formar redes com um virtualmente infinito número de "nós", mas as redes são seu formato temporário: em geral ela é encontrada em formato concentrado e tamanho reduzido, como uma bola. A rede não é densa ou pesada, ela "flutua", mas de forma aparentemente consciente. Foi, na época do surgimento de Heelum, a única coisa com a cor branca no universo. A reprodução dessa cor não é possível por qualquer artefato que não a própria rede.
A rede surgiu na Montanha Kor, que dá origem ao rio Al-u-bu, logo após a estabilização de Heelum. Foi muito tempo depois que os próprios humanos, algumas dezenas deles, foram criados a partir de fragmentos decaídos da Rede de Luz. A rede de luz é considerada o primeiro mistério de Heelum.
A rede e os humanos[editar]
A rede de luz é particularmente intrigante quando se considera o efeito que tem entre seus "subprodutos", os seres humanos. Já que pode se multiplicar infinitamente e agregar-se novamente até a unidade completa, cada humano possuía "uma luz" na época. Possuir uma luz significa ter para si uma rede de luz, mas seu efeito se dá pela conexão com outras "luzes".
"Ninguém sabe há quanto tempo a Rede de Luz estava ali antes de ela criar as pessoas, mas só sabemos que um dia ela criou a gente. A Rede de Luz fazia coisas fantásticas. Ela unia todo mundo, porque todo mundo se entendia. Cada um tinha um pouquinho da luz, mas… Ninguém mandava na luz. Se eu tinha luz, e você tinha luz, nós podíamos trocar nossa luz e aí podíamos sentir um ao outro. Podíamos pensar o que o outro pensava, sentir o que o outro sentia… Então todo mundo se entendia mais. Todo mundo brigava menos." Lamar contando a história da Primeira Guerra para seu filho em A Aliança dos Castelos Ocultos, capítulo 3
O momento de conexão é o de troca de luz. Isso se dá quando um humano resolve trocar de luz com outro. A troca de luz cria uma conexão em que cada um dos humanos compartilha da consciência e das memórias do outro: um sente o que o outro sente ou sentiu; vê o que o outro viu, pensa da forma como o outro pensa ou pensou. Isso está sujeito, é claro, às alterações da memória: a pessoa A não sente exatamente como a B sentiu, mas como a B lembra que sentiu.
Isso foi extremamente relevante para a formação da primeira cultura, da primeira sociedade humana. A rede de luz era usada como uma forma eficiente, rápida e flexível de comunicação, decisão, resolução de conflitos, entre outros. A primeira cidade humana não era, é claro, conhecida como Cidade Arcaica: era simplesmente "Heelum", o nome do mundo como um todo. Heelum (a cidade) foi crescendo e se organizando sob a égide da rede de luz, que, segundo registros, não apenas fazia a ponte entre o entendimento dos humanos mas também lhes passava uma série de descrições e prescrições sobre o mundo. Essas prescrições em particular, guias para uma vida boa, não têm um nome específico, mas são de conhecimento e respeito popular, como uma espécie de habitus moral, naturalizado como a "coisa certa" a fazer.
Arcos brancos[editar]
O centro da cidade de Heelum foi marcado pela rede de luz com o único objeto branco em Heelum: os arcos brancos, colunas curvas concêntricas que formam uma espécie de domo aberto: as colunas são grossas e de um material especialmente resistente. A rede de luz ensinou os humanos a fazer inscrições nas colunas, e as colunas passaram a ser usadas como "registro", como é conhecida a historiografia em Heelum.
A ideia do registro aparenta um essencial didatismo: para manter viva a tradição dos humanos antigos que vão deteriorando e morrendo, e as lições de convivência e experiência que deixaram, as vivências memoráveis devem ser inscritas nos arcos brancos. É importante notar que isso não implica uma visão historicista das coisas, nem um registro matematicamente preocupado com uma linha progressiva dos acontecimentos; não há uma contagem de tempo para além do ciclo rosanual (de 216 dias), de forma que não se diz que "algo aconteceu no ano x", mas que "algo aconteceu". Essa noção de história e passado será melhor abordada separadamente em outro artigo.
O registro em si, no entanto, no formato como era feito, exibia um traço mais artístico e preocupado com a expressão do que necessariamente com uma necessidade de ser didático. Afinal, a rede permitia uma transmissão cultural muito eficiente, tornando a inscrição nos Arcos algo ignorável.
A simbologia da Rede de Luz[editar]
If you could see what I could see, maybe we could all get along
And maybe I can justify the bad things in life that I've done
"You've Got A Heart Of Star", música da banda britânica Oasis
A rede de luz aparece como figura ambígua perante os humanos: incompreensível e ao mesmo tempo adorada; às vezes detestada e rechaçada, mas sempre reconhecida como imprescindivel. Para alguns, dona de uma única, reconhecível e forte personalidade; para outros, branda, possuidora apenas de conhecimento que humanos conseguiam aproveitar de alguma forma, e se apresentando (não curiosa ou surpreendentemente) com a personalidade do "dono" da luz.
Por não ter necessidades ou sentimentos expressados não era tão personificada: era uma ferramenta, uma ferramenta peculiar e com certa vida própria, mas certamente uma ferramenta. A ela os humanos creditavam não apenas sua existência mas também sua glória e seu sucesso em todos os sentidos.
No que tange à história como um todo, a rede de luz não precisa ser entendida como uma metáfora para algum tipo de "Deus criador" de diversas religiões. Na verdade Heelum como um todo - incluindo a rede de luz - surgiu da dinâmica entre o nada e a existência, portanto não sobra realmente muito espaço para um conceito muito forte de agência.
Parece ser, por outro lado, mais interessante interpretar a rede de luz como a capacidade humana de conexão - a empatia, a refinada capacidade de montar modelos mentais do mundo à volta e não apenas se inserir no mapa como também ser capaz de imaginar outros pontos de vista com precisão subjetiva. É a nossa capacidade de sentir o outro, de entender o outro - exacerbada como dispositivo literário na ficção - que a rede de luz simboliza e corporifica: aquilo que nos torna humanos, não tanto em separação a outros animais mas culturalmente como donos de si que têm a responsabilidade de viver a vida junto aos outros. A cidade de Heelum e seu uso da rede de luz faz lembrar a ideia de uma sociedade que culturalmente valorize, tanto como forma de resolução de conflitos quanto de orientar a vida mesmo, a atenção com o outro, o cuidado com o outro, o diálogo com o outro, o respeito e o aproveitamento pelas e das diferenças até o momento em que a própria ideia de "outro" enquanto oposição soe um tanto menos poderosa em primeiro lugar.