Nós, vivos e pensantes, ficamos agoniados quando entendemos a teoria de alguém, ou ainda melhor, de sucessivas teorias ao longo dos séculos, e percebemos uma falha. Queremos logo pensar, escrever em algum lugar, contar pra alguém como aquela pessoa foi burra. Como Aristóteles podia pensar aquilo? E o que deu na cabeça de Kant? E Morgan, aquele imbecil? E o Levi-Strauss, hein? E o Marx, hein? E por aí vai.
Agora imagine a ânsia de quem já morreu e vê, do passado, ano após ano, novas pessoas descobrirem falhas em seus sistemas, e abrirem brechas por dentro deles até esmigalhá-los. Se a vida póstuma existe para um pensador, deve ser uma vida extremamente inquietante, seja no céu, seja no inferno, posto que ele não pode dizer mais nada. Nem pra se corrigir, nem pra se defender.