Para ser feliz, não basta acreditar

Então, veja bem... Esse texto foi publicado em 20 de fevereiro de 2016. Como nada realmente desaparece na internet, não faz tanto sentido deletá-lo; mais fácil mantê-lo, nem que seja pra satisfazer alguma curiosidade posterior... Apenas saiba que há uma boa chance de ele estar desatualizado, ser super cringe, ou conter alguma opinião ou análise com a qual eu não concordo mais. Se quiser questionar qual dos três é o caso, deixe um comentário!

Outro texto escrito em 2011 em que uma ideia de Graeber aparece (eu adicionei agora deliberadamente o termo “ataque à imaginação” pra apontar o conceito).

Hm.

Se a coerência interna ainda vale de alguma coisa, teorias contemporâneas de aceitação do mundo e “desimportanciamento” da dinâmica efetiva de existência são simplesmente nojentas, e é preciso fazer com que isto seja notado. Quer dizer que todos têm chance de serem felizes, pois isto é apenas um estado de espírito, uma atitude racionalmente controlada e induzida que pode, portanto, causar por A + B a felicidade? Então façamos o seguinte: perguntemos a tal proponentes do absoluto domínio do homem sobre sua redoma de ignorância se eles aceitariam trocar de vida com alguém dos estratos mais baixos do nosso Brasil. Se forem minimamente coerentes, devem dizer sim, pois o modo como encaramos a vida deve bastar para nos fazer felizes. Mais nada importa.

O que pretendo demonstrar não é a preponderância da dita “realidade” sobre visões de mundo particulares, mas apenas que o inverso é uma presunção igualmente sofrível e um absolutismo tão ruim quanto, se não pior. Até mesmo a mais “infeliz” das pessoas, dadas suas circunstâncias, deveria buscar ser feliz, mas não se pode desvincular suas condições objetivas dos esforços práticos para alcançar tal estado de espírito. Eu diria, inclusive – e talvez esse seja justamente o objetivo dessa ideologia que visa fazer vencer por W.O. a dinâmica do status quo, ou seja, realizar o ataque à imaginação de Graeber – que a própria ideia de que é possível ser feliz apenas decidindo sê-lo, pois “somos o que pensamos”, é justamente a teoria da preponderância da realidade, pois implica um reconhecimento de impotência frente à realidade. Dessa impotência surge o ressentimento e a vingança é o isolamento do mundo e o mergulho no eu: nele se reconhece a única fonte permitida de felicidade, significado e vida. A realidade da vida é empobrecida à medida que não se permite experimentar o contato com o mundo: o mundo é negado. Da mesma forma que em Platão o mundo das ideias, inatingível, é o real, aqui o mundo interior, atingível e manipulável através de jogos de consciência e linguagem, torna-se o real, e o mundo externo torna-se secundário e subordinado (quando deveria ser… Parceiro? Um igual? Um adversário?).