A Bruxa do Matinho do Sul

Escrito para a postagem de dia das bruxas (2025) para o projeto FantastiCatarina.

Sempre achei que histórias de terror foram feitas pra assustar forasteiros. Não é possível que alguém leve os vampiros a sério na Transilvânia. Aliás, com um problema desse tamanho, como é que não se mudam de lá, não é mesmo?

É por isso que dei risada quando a Dona Antônia, com seu pleno sotaque manezinho, me falou da Bruxa do Matinho do Sul.

– Mas é verdade, homem! – Protestou, com um tapinha das costas dos dedos no meu ombro. – Fala uma vez o nome dela na frente do espelho na noite do dia das bruxa, e tu sente um arrepiozinho assim na nuca, ó. Tu fala duas vez, aí tu já sente um calorzinho…

– Tá, tá, e a terceira, que que acontece? Ela aparece pra ti no espelho, que nem a loira do banheiro?

– Não seeei… Ninguém sabe o que que acontece!

– Ah, tá bom…

– Mas tô dizendo! É que ninguém nem consegue terminar de falar o nome dela a terceira vez!

O assunto logo virou outro, e depois outro, e depois cada um seguiu seu caminho.

O dia das bruxas caiu numa sexta, e a cidade fervilhou com festas. Eu não estava no clima, ainda mais que tinha que viajar no dia seguinte. E ainda mais praquele lugar que eu detestava.

Aquela cidade que você conhece, mas preferia não conhecer. Com gente que parece que nunca ia se conectar com você de verdade, nunca ia fazer comida que você gostasse, nunca ia contar uma piada que não te fizesse revirar os olhos.

Não deixava de ser uma cidade, com todas as suas chances de entretenimento de massa e solidão de hotel. Mesmo assim, eu sempre me senti estranho naquele lugar.

Tem gente que gosta da estranheza. Eu não.

Vai ver histórias de terror não são pra assustar forasteiros. São, mesmo quando não são, sobre forasteiros. Ou sobre o terror de não estar com os amadinhos, com os queridos, com quem você conhece e de quem pode até desconfiar, mas já sabe como lidar.

Não é justo, eu sei. Eu não tenho preconceito… O pessoal daquela cidade é gente boa também. Honesta. Gente como a gente.

Só não era a minha gente, só…

– São um monte de… “Bruxa do matinho do Sul”… – Murmurei, fazendo a barba diante do espelho.

O ardor no limite do lábio de cima era inconfundível. Merda – me cortei.

E, com isso – né? – veio um arrepio.

Me peguei pensando se era normal mesmo sentir um arrepio ao fazer a barba.

Bom, normal mesmo é você desafiar a sorte, meio que vacilante, mesmo sozinho, brincando consigo mesmo só pra se convencer que tem coragem.

– Bruxa do Matinho do Sul… – Falei de novo, devagar, sorrindo.

Bom, o fluxo a mais de sangue correndo para o rosto causa esse rubor, esse calor, esse…

Mas que palhaçada. Diga logo esse nome, homem.

– Bruxa do Mati