“Liberdade”

Então, veja bem... Esse texto foi publicado em 2 de setembro de 2015. Como nada realmente desaparece na internet, não faz tanto sentido deletá-lo; mais fácil mantê-lo, nem que seja pra satisfazer alguma curiosidade posterior... Apenas saiba que há uma boa chance de ele estar desatualizado, ser super cringe, ou conter alguma opinião ou análise com a qual eu não concordo mais. Se quiser questionar qual dos três é o caso, deixe um comentário!

Esse livro me arrebatou por completo. Me deixou em tal estado de ânimo que, despedaçado, não consegui escrever uma resenha coerente depois dele – apenas uma assim, aos pedaços, observando de bocado em bocado essa obra prima contemporânea.

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Ele é um livro tão incrível que seus defeitos lhe parecem apenas relatividades: coisas que, por razões pessoais apenas, preferências, um ou outro leitor não gostaria. Em nenhuma obra de arte pode-se aspirar à perfeição, quanto mais universal; o máximo que se pode esperar é fazer algo que mesmo os detratores vão admitir que, para um número significativo de pessoas, os defeitos identificados tornar-se-iam até qualidades.

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É que acontece, por exemplo, com seu gigantismo. É verdade que depois da página 450 você começa a se perguntar se era realmente necessário conhecer mais sobre a linhagem paterna de Walter? É. Verdade que não tem mais muita certeza se vai compensar, mais à frente, prestar atenção em todos os detalhes e todos os desvios que o narrador, seja ele quem for no momento, faz? É. Mas compensa, viu?

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O estilo dele, ou pelo menos o quanto disso pôde ser ainda transferido para sua tradução ao português, é muito bom. É muito, muito bom.

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O romance de Patty e Walter, no fim das contas, é o mais lindo de todos os tempos. Eis o poder de uma narrativa biográfica, de personagens atormentados, e de um tipo de amor que raramente se vê hoje em dia: um trapo velho que se faz à mão com muita dificuldade e imperícia, não roupa bonita que se escolhe num baile da corte; fonte insuspeita de nossas decisões mais estranhas.

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O que achei esquisito – e o único ponto que me põe numa posição estranha em relação ao livro – é 1) o grau de autoconsciência que os personagens exibem; e 2) o quanto isso pode realmente ser atribuído a eles e o quanto vem simplesmente do narrador, sem passar por suas cabeças.

É que como temos um narrador em terceira pessoa que “mergulha” nas mentes dos personagens mais frontais, às vezes é difícil saber (impossível) quando o personagem realmente está pensando algo ou não. No caso das autobiografias de Patty, fica claro – o que corrobora o motivo da estranheza. 

O motivo, é preciso explicar melhor, é o seguinte: em geral um personagem tem uma característica, mesmo que oculta, aí ele age de acordo com ela, e então ele percebe que tem a característica (ou alguém percebe isso por ele, e lhe diz). O livro é muito mais aberto do que isso, dizendo para o leitor que Patty é competitiva muito antes de ter qualquer chance de mostrar que ela o seja. E ela fica pensando nisso tudo muito antes que isso seja de alguma forma explícito ou verbalizado, e sou um pouco cético quanto a essa presença de espírito autorreflexiva que todos ali retratados possuem.

De outro modo, talvez isso seja apenas um recurso literário para que várias coisas funcionem dentro da narrativa, e nesse sentido tudo vai bem, mesmo a partir daí. Ou quase: mesmo depois de duas ou três exposições, ainda não consegui entender exatamente qual é o problema de Joey com Patty. O problema, é claro, é que eu consegui entender o problema se todas as formas desnecessárias (a intelectual – ela mimou ele demais – e a poética – ele tem uma ‘parede’ sentimental posta contra ela ou algo assim), mas não na única que importa: essa lógica, no fim das contas, nunca entrou no meu coração e se naturalizou como algo perfeitamente compreensível. Os sentimentos de Patty, de Katz, de Walter, de Connie, todos bastante familiares no momento em que vão sendo lindamente tecidos na trama do livro. Até os de Joey em relação ao pai – perfeitamente compreensíveis. Mas os de Joey para com Patty vão me fazer coçar a cabeça sempre que me lembrar deles.

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Algo definitivamente cativou imaginação quando você se vê conectando músicas conhecidas à nova experiência literária. No meu caso, o cover de Parachute por parte de Kawehi me lembrou muito Connie e Joey; e a música Damn Regret, do Red Jumpsuit Apparatus, me faz lembrar do livro todo.

Fantástico.