O conceito de Minoria e suas aplicações sociais

Produzido por um dos alunos do curso: pensando em tornar a proposta de leitura interessante para os alunos, optei por usar uma pequena estória em quadrinhos do autor Alan Moore. O título da estória é “Na noite mais densa”, se passa num universo ficcional onde um grupo denominado “Lanternas Verdes” percorre o universo à procura de protetores planetários das mais variadas raças.

Introdução

A ideia de trabalhar o conceito de minoria e as implicações sociais desse “status social” me apareceu a partir da constatação das dificuldades de “tradução” encontradas por Katma Tui. Dificuldades estas que não se limitam à sua interação com o novo colega alienígena, mas também para com seus superiores que desconhecem tal estilo de vida “tão limitado” e que insistem em querer “tirá-lo do escuro”.

Resumo: Uma guardiã lanterna verde, de nome Katma Tui, recebe uma missão um tanto complicada. Ela viaja até um espaço extremamente remoto do universo, onde não há estrelas nem qualquer outra fonte de luz, e se depara com uma forma de vida que não consegue compreender nada que seja relacionado com o sentido humanoide da “visão”. O desenrolar dessa estória trata das dificuldades de comunicação dessas duas espécies, mostra também as alternativas propostas por Katma Tui para fazer-se compreendida tanto pelo novo amigo alienígena bem como para seus superiores que lhe exigem explicações sobre esse novo ser “incapaz” de entender a “luz”.

Antes

E se descobríssemos um planeta hoje, em um espaço remoto do universo onde não há estrelas e nem qualquer outra fonte de luz, mas qhe possui vida orgânica semelhante a nossa? Como se pareceriam esse seres? Quais as maiores dificuldades que teríamos para nos relacionarmos com os tipos de vida que lá existissem?

(Proponho aqui levantar o debate sobre as diferenças sociais com que nos deparamos diariamente)

Durante

Propor uma conversa onde os colegas possam trocar experiências sobre momentos em que eles, ou alguém próximo a eles, sofreu algum tipo de preconceito (machismo, racismo, LGBTfobia, xenofobia, etc).

O que mais chamou a atenção de vocês nessa estória?

Vocês se identificaram com algum dos personagens? O que te levou a se identificar com esse personagem?

(Introduzir e problematizar o conceito de Minoria)

Depois

Propor uma pesquisa que os faça entrar em contato com a realidade social de alguma minoria.

    • Façam uma pesquisa sobre leis que representem a proteção de algum grupo minoriário com que você mais se identifica. Existe alguma lei de proteção? O que ela fala sobre esse grupo específico (selecionado pelo aluno)?
    • Quais as dificuldades encontradas na pesquisa? (Acesso a informação? Clareza dos dados encontrados? Escasses de conteúdo sobre o assunto?)
    • Outra proposta é sugerir que os próprios alunos escrevam um “projeto de lei” sobre o grupo/temática que acredita ser sua prioridade.

Meu feedback

Que fantástico!!! Muito bom mesmo!! Não conhecia essa história, e me parece que os alunos vão gostar bastante de ler HQs em sala de aula.

Minhas sugestões são de reorganização em termos de quando-fazer-o-quê. Por exemplo: acho que a troca de experiências sobre fazer parte de / conhecer alguém que faz parte de uma minoria deveria acontecer antes da leitura, como forma de introduzir o tema. Se você fizer numa aula só a pergunta sobre os extraterrestres e das minorias, é garantido que o pessoal vai ficar tipo “… mas o que diabos tem a ver uma coisa com a outra???”. Isso é FANTÁSTICO pra atiçar eles pra leitura, porque é como se fosse uma promessa oculta: mesmo sem você falar nada, durante a HQ eles vão estar pensando (“quando é que isso vai ter alguma coisa a ver com minorias??”) e certamente vai haver momentos “eureka!” aí, hehehe.

Também acho que a introdução do conceito (a não ser que a HQ seja realmente pequena e possa ser lida em, digamos, metade de uma aula) viria depois da leitura, certo?

O projeto no final também é fantástico!

Quanto à substância e dicas de coisas que você podia dar uma olhada: o próprio conceito de raça / espécie dentro e fora da ciência… Afinal, comparar aliens a minorias, especialmente étnicas, é meio problemático mas foi uma pergunta com a qual grupos humanos muito diferentes se confrontaram quando os europeus vieram pra América. O que exatamente demonstra a ideia de ver um outro humano mas considerá-lo tão diferente que ele pode não ser sequer humano? O que isso quer dizer sobre o quanto a cultura conta na hora de definir o que é ser humano? E, pra atiçar ainda mais, de que formas mais ou menos violentas/sutis “desumanizamos” minorias de toda sorte?

O problema da comunicação também é muito interessante… Passando até um pouco mais pra política, dá pra se perguntar sobre a subjetividade. A grande briga entre pós-modernos vulgares e esquerdistas de raiz: o tal do “lugar de fala”. Quão realmente possível é entender o outro quando ele tem uma experiência diferente da nossa? O quanto isso marca nossa consciência, perspectiva, etc? Dá pra ir até a racionalidade iluminista, Kant, Adorno, Habermas AEHAEHeaheaheAhEA – mas aí talvez seja demais pro projeto, a depender de quanto tempo há :) (por outro lado, a partir da leitura de uma HQ dava pra planejar um trimestre inteiro de aulas, considerando todos esses conceitos!)

Ah, também, se na época em que você executar o projeto já tiver disponível de alguma forma o filme “A chegada”, me parece que é centrado no trabalho de uma linguista, que é contratada para tentar entrar em contato com os alienígenas que estão pairando sobre a Terra. Parece um filme mais “cabeça”, mesmo dentro de um enquadramento hollywood, e daria pra introduzir a problemática de se comunicar com os alienígenas. Eu não sei onde que eu vi isso, infelizmente, mas muitos cientistas acham que a melhor ideia para uma primeira comunicação com alienígenas seria a matemática; eles acham que os alienígenas (especialmente se eles chegarem aqui hehe) seriam capazes de entender isso, mesmo sem nada em comum com as nossas línguas.