Sexualidade e Gênero (Minicurso LEFIS)

Produzido por um dos alunos do curso: Quando pensamos em sexualidade e gênero, de imediato pensamos ser algo fácil de resolver. Enganam-se aqueles que assim pensam. É complexo, mas de simples manejo em sala de aula, quando colocado de forma descontraída e atrelada a outro tema que os faça entender que todos estamos inseridos no mesmo contexto, só estamos em pontos diferentes dessa história contada. Para criar essa atmosfera de aceitação peguei um filme com temática dupla, trata-se da: Fábrica dos Sonhos (que em inglês era o Rei das botas). Vi esse filme com uma turma do magistério há alguns anos atrás, porém na época não tinha esse foco.

Resumo: O filme trata da falência de uma fábrica de sapatos masculino na Inglaterra, sendo que o herdeiro motivado por empatia ao funcionário busca uma alternativa para sua fábrica. Ao fazer uma visita em Londres para buscar um último recurso de salvação para a fábrica, Charlie depara-se com um travesti, que lhe inspira nessa nova caminhada. Lola, assim tratada como travesti e dragqueen, começa a trabalhar na fábrica, por ser uma cidade do interior desperta a curiosidade e o preconceito de muitos. Sua convivência com os funcionários vai criando um clima de proximidade e acolhimento.

Antes: O filme foi visto como algo que lhes trouxesse um pouco de distração, diante de um semestre bastante carregado, depois de passar o filme foram se tocando que o mesmo tinha uma função sensibilizadora.

Durante: Alguns fizeram piadas desnecessárias, talvez por se tratar de um travesti, essa vida de anormalidade e perversão ainda permeia a consciência de muitos, também porque vivemos numa região extremamente fundamentalista. Agrego essa visão errada também a mídia que sempre caracterizou os homossexuais como caricatos.

Depois: Com a função social do homossexual mais definida na sociedade, isto é, participante ativo da construção da economia e criativo, levando muitos méritos por grandiosidades artísticas, presentes em vários períodos da história.

Para a teoria até chegar no filme, usei este prezi, que gostei muito, ele já estava pronto.

Meu feedback

Ok, em primeiro lugar, muito legal o projeto! Mas acho que poderia ficar mais detalhado um pouco algumas coisas, em especial a conexão entre teoria e filme. Porque veja, agora as coisas estão um poucuo desconexas; há o filme (um momento), há a teoria (outro), e embora em cada momento ocorra alguma contribuição, os dois parecem estar desconectados.

Aliás, já que você colocou que a teoria está “até chegar no filme”, ou seja, antes, eu adoraria saber qual foi a resposta dos alunos a esse prezi – e principalmente, quantas aulas você usou, porque ele é super denso!! Digo, dá pra ter um mês inteiro de aulas com as teorias que estão descritas ali. Temo que passar tudo em uma aula só (ou menos!) deixe a questão toda meio superficial, não? Como os alunos responderam a essas ideias?

Bem, voltando à conexão entre uma coisa e outra: pelo que eu vi, a resposta dos alunos foi interessante por poder ver um exemplo (uma biografia, pra contrapor o preconceito), mas houve algum momento de retorno à sociologia após o filme? A questão é: de que maneira o filme ajuda os alunos a abordar a questão de forma sociológica?

Minhas sugestões seriam de deixar explícito / adicionar algumas conexões em um de dois momentos possíveis (ou os dois):

1a) Entre a teoria e o filme – talvez seja possível mostrar as diferenças entre algumas abordagens teóricas e perguntar se os alunos, através do filme, conseguem ver se eles podem embasar argumentos a favor ou contra essas abordagens. Talvez você tenha feito isso – afinal, o prezi por exemplo mostra a diferença entre feministas liberais e radicais – mas isso não ficou explícito aqui na página do projeto.

1b) Outra questão também é talvez buscar correntes teóricas do passado, abandonadas hoje em vistas de desenvolvimentos teóricos ou dados, e apresentá-las de início como na época em que eram debatidas seriamente – para que, a partir do filme, talvez, os alunos possam ver se decidem entre as abordagens teóricas qual seria mais apropriada.

2) Entre o filme e o retorno à teoria, que aqui parece não ter havido – me parece que a teoria chega muito pronta, feita, definida; cabe aos alunos apenas aceitar suas verdades e ratificar, a partir da “prova” que o filme oferece, o que Grandes Autores discutiram. Em suma, me parece, no fundo, uma aula comum com apoio audiovisual.

Será que os alunos realmente aprendem algo sobre a questão, ou saem achando que é tudo uma bobagem? Será que saem do filme achando que a Lola é uma “boa trans”? – fazendo referência à ideia racista do “bom negro”, isto é, o negro token que brancos se utilizam pra dizer “eeeeu, racista? Jamais, até gosto daquele negro, aquele sim é um negro bom”. Será que realmente eles percebem as conexões entre essa personagem trans em particular e os desafios que a condição trans traz para os indivíduos? Porque esse é o desafio, né, a partir dessa identificação momentânea que o personagem traz, levá-los a ver como essa não é uma questão pontual – daquela personagem – mas social, política, mais ampla. Talvez você tenha feito isso em aula, mas não ficou claro, aqui na descrição do projeto, como foi feito. Durante o filme foram apontadas algumas questões, pausadamente? Ou foi feita uma reflexão coletiva posterior? Que cenas, ou momentos específicos, foram apontados?

Mas veja, é possível que os alunos “saiam achando que é tudo uma bobagem” – esse é sempre o perigo mesmo. A questão é que se os envolvermos num debate aberto sobre a questão, principalmente antes do tema, talvez consigamos envolvê-los na teoria sem chegar com ela como uma coisa feita que eles têm que aceitar e pronto – colocando mais peso e responsabilidade no aparelho cognitivo deles pra analisar a realidade. Lembra, como conversamos nos encontros? Seria legal, eu sugiro, que a teoria viesse mesmo depois do filme – inclusive o prezi, pra talvez “organizar” e “situar” as diversas posições que possam surgir entre eles em algum debate. Acho que seria legal que eles pudessem se fazer, coletivamente, as perguntas que a teoria ali no prezi busca responder (chegar às perguntas mesmo, com ajuda do professor, porque talvez seja preciso problematizar o que pareça óbvio). Então se a teoria apresentada ali busca responder sobre a natureza e a condição da sexualidade humana, do gênero, etc, seria legal estabelecer com eles de que maneira isso é um problema, e de que maneira o filme pode ser usado pra buscar respostas.

Mas aí, também, estou alterando demais o projeto… Acho que, mantendo essa ordem – teoria e filme – o que sugiro mais diretamente seria buscar uma forma de deixá-los genuinamente curiosos e atentos ao filme – como se a teoria, como apresentada, apresentasse um campo aberto de disputas que os alunos podem tentar resolver e ter uma avaliação pessoal, mas que possam usar o filme, com a orientação do professor, para ir descobrindo pontos de vista sobre a questão. Novamente: talvez é exatamente isso que você tenha feito, mas não ficou muito claro pela descrição aqui na página :)