“Reality is inherently complex; the simple never leaves the realm of the ideal, never arrives at the concrete.”
– Pierre-Joseph Proudhon
Eu estou numa cruzada. Às vezes isso me proporciona boas conversas, e às vezes me transforma num chato que se apega aos detalhes. Mas a verdade é que o que eu faço é parte decisão, parte reflexão e parte personalidade: sinto que é importante dizer, que é honesto dizer, e que é tipicamente nerd dizer, que o mundo simplesmente não é simples.
Isso pode parecer ponto pacífico, daqueles que faz o senhor que beberica bebida no bar em plena tarde de segunda-feira balançar a cabeça em silenciosa concordância. Mas a verdade é que na forma como experimentamos o mundo, adoramos a simplicidade. Ela é quase uma predisposição evolutiva: quanto mais pudermos “processar” sobre o mundo com o menor gasto de atenção, melhor – e assim “teorias de tudo” são tão atraentes. A partir de um único princípio universal, deriva-se e compreende-se tudo.
Desconfio de (teorias de) tudo. Qualquer coisa que se apresente simples demais, de categorias a acontecimentos, merece minha repulsa instintiva, uma coisa do pâncreas mesmo, que sobe a garganta quase como uma vergonha alheia, ou um orgulho arrogante. Desconfio, exijo provas, desafio: a quem me diz que o mundo é preto e branco, tenho uma vontade louca de mostrar a imensidão colorida que nos rodeia e nos afoga. Acompanhar discussões de facebook é como navegar pelo arco íris, torcendo para que quem tenha dado a última palavra não seja a voz da monocromática e inconsequente simplificação do que quer que esteja sendo debatido.
Há óbvias vantagens para a simplificação. Ela é didática; é bela. Constrói pontes, é uma base poderosa, quiçá imprescindível, para amplos acordos, e enquanto ferramenta muitas vezes é o começo de um caminho que possa ampliar ainda mais nosso entendimento sobre a complexidade intrínseca a um tema. Porque sim, tudo é complexo: temos um certo asco ao difícil num mundo tão cansativo, e ao chato num mundo tão burocrático, mas difícil não é necessariamente complexo e complexo não é obrigatoriamente chato.
Mas pode se tornar, a depender de quem fala do quê; simplicidade pode ser feia também. É a estratégia universal para reduzir e escrachar; desumaniza uma ideia e rebaixa um humano. Subestima. Revela valores, porque não dá pra ver a complexidade de tudo – precisaríamos de vida (e disposição) eterna para tal tarefa – de modo que para ser capaz de entender, usar, curtir, distinguir, desfrutar e finalmente abraçar a complexidade, é preciso a paixão que nos dá foco e decisão; o sentimento que anima o nerd. O nerd é aquele cuja paixão por um tema o impulsiona para além da simplicidade. Enquanto muitos vêem Star Wars como aquela ficção em que acontece A e B, o nerd conhece detalhes, backstage e universo estendido. Enquanto muitos vêem arquitetura de uma forma abstrata e intuitiva, o nerd conhece a história da construção do Empire State Building. Enquanto uns lembram de Newton, outros percorrem as estrelas em busca de respostas. Enquanto uns sabem que “o homem veio do macaco”, outros ficam a vontade com as lacunas do conhecimento sobre a história da evolução das espécies.
Eu gosto da complexidade e sou seu tiete. Sou um nerd quanto à ficção e ciências sociais – e também filosofia, talvez a razão pela qual mesmo sem profundidade, procuro pelo menos me aproximar de qualquer assunto esperando encontrar complexidade e tentando, assim, aproveitar o calor suave e inodoramente humano de sua manifestação gloriosa.
É muito ruim advogar que o mundo seria melhor se mais pessoas fizessem o mesmo?