Estereótipos e arquétipos

Então, veja bem... Esse texto foi publicado em 6 de maio de 2016. Como nada realmente desaparece na internet, não faz tanto sentido deletá-lo; mais fácil mantê-lo, nem que seja pra satisfazer alguma curiosidade posterior... Apenas saiba que há uma boa chance de ele estar desatualizado, ser super cringe, ou conter alguma opinião ou análise com a qual eu não concordo mais. Se quiser questionar qual dos três é o caso, deixe um comentário!

O que significaria pensar de forma estereotípica? Eliminar a diversidade do mundo, ou ter o otimismo de fazê-lo pensando o múltiplo como único. É a chama do preconceito: o que sobra do que é consumido pela preguiça de pensar e conhecer. Não sei o que é tal coisa – mas só de olhar, assim, de lado, meio transverso, vejo aqui que pode talvez com certeza ser aquilo mesmo que eu já estava pensando antes de me pedirem a opinião.

O arquétipo, por outro lado… não consigo deixar de vê-lo como uma bobagem, especialmente se estivermos falando do que é associado à linguagem universalista e quase “biologizante” (porque me parece tão mais esotérica que isso) de Jung. – Certa vez ouvi de um filósofo contemporâneo (do qual não lembro) que “não existem arquétipos”, pois “nós é que pensamos de forma arquetípica”. Isso faz toda a diferença. Vai além de ver nossos túneis-realidade como resultados das sombras dos arquétipos, que se projetariam do nosso DNA ou coisa parecida. Nossa forma arquetípica de adaptar nossa visão ao mundo gera esse tipo de percepção conhecida como arquétipo.

stereotype photo
Photo by bixentro

Mas como o arquétipo se diferencia do estereótipo? Etimologicamente temos o princípio (no arquétipo) e a impressão (no estereótipo). Me parece um bom guia: se o estereótipo nega a experiência para impor uma impressão que desconsidera a diversidade, o arquétipo usa de toda sorte de experiência e diversidade para construir um ponto comum que, influenciado por toda uma gama de fatores simultâneos, torna-se princípio, marca que não se sobrepõe à imagem, mas fornece antes um quadro de referências no qual a imagem passa a ser classificada e lida.

Os memes são um grande exemplo de como essa questão de arquétipos universais é baboseira: primeiro porque se os arquétipos são muito parecidos há milênios é porque

  1. As sociedades são, também há milênios, muito parecidas;
  2. Muitas vezes diferenças são desconsideradas rápido demais para que se possa dizer que “no fundo é tudo a mesma coisa”;
  3. Há uma série de eventos vitais que se repetem e que não há muitas formas de as coisas acontecerem diferentemente. Crianças nascem em um mundo de adultos e outras crianças tão ignorantes quanto elas; é óbvio que ao conviverem classificam os adultos como aqueles que são mais bem versados em uma arte ou ofício, e naturalmente a partir dessa convivência aprendem a exercer tal arte ou ofício – a ideia do mentor mais velho é uma obviedade.

Um meme que virou símbolo de “bons conselhos para a vida” é o pato – Mallard Duck – e com ele vemos como o pensamento arquetípico gera arquétipos diferentes – a partir da disseminação contemporânea de informação o pato assume a voz de qualquer pessoa, não necessariamente do sábio mais velho. Na máscara-espelho do animal, o que vemos? Quem sabe o fato de que na era do Google a face do conhecimento não pode ser humana? Ou quem sabe uma perspectiva desiludida da “sociedade humana” enquanto fonte de sabedoria – talvez animais possam, afinal, ser fonte de conhecimento, e esse tipo de arquétipo podemos encontrar em sociedades antigas cuja conexão com os animais era maior que a nossa.

O Forever Alone ou o Bad Luck Brian também são grandes exemplos de arquétipos contemporâneos. Representam parte de uma cultura específica, é verdade, mas não são estereótipos: são princípios de situações, sentimentos e status que tornaram-se mais relevantes para nós nos últimos tempos e, como tendemos a ver as coisas de maneira arquetípica, conceptualizamos esses símbolos para classificar esses princípios.