Entre o pensar, o decidir e o expressar: identidade, smartphones e internet

Então, veja bem... Esse texto foi publicado em 23 de junho de 2016. Como nada realmente desaparece na internet, não faz tanto sentido deletá-lo; mais fácil mantê-lo, nem que seja pra satisfazer alguma curiosidade posterior... Apenas saiba que há uma boa chance de ele estar desatualizado, ser super cringe, ou conter alguma opinião ou análise com a qual eu não concordo mais. Se quiser questionar qual dos três é o caso, deixe um comentário!

No vídeo a seguir do excelente CGP Grey, argumenta-se que os smartphones são hoje basicamente uma extensão do nosso “eu”. Se você precisar escolher, exemplifica Grey, entre dar para alguém o poder de ler a sua mente ou acesso ilimitado ao seu smartphone, o que você escolheria? Bem, a resposta intuitiva parece ser o telefone mas, como ele ressalta, nossa memória é falha; o celular, contudo, sabe muitas coisas sobre nós; dados que nós mesmos esquecemos ou não sabemos que ele possui, e isso é complicado. Veja o vídeo (em inglês):

Pensei nisso porque estava aqui estudando e me ocorreu fazer um comentário sobre um autor: “que idiota!”, digitei. A questão é: se alguém tiver acesso à minha conta do Google, a esse documento no Google Drive, e se eu for notável o bastante para que esse comentário ganhe importância para o público amplo, o que ele diz sobre mim? O fato de eu tê-lo digitado é, creio, a mesma coisa que se eu tivesse tão-somente pensado nele – não é indicativo de nada; é só uma impressão primária que eu quis registrar, mas que eu certamente refinarei antes que qualquer coisa relacionada a esse material venha a público.

Afinal, quantas vezes pensamos coisas desagradáveis para, meio segundo depois, pensarmos melhor e abdicarmos do que atravessou a cabeça? A questão, já disse Graeber e disseram outros, não é o instinto, a vontade, o pensamento solto; esses nós temos quase todos, mas só o fato de existirem não quer dizer nada. A grande questão é como são organizados, hierarquizados, de que forma influenciam nossas ações – em outras palavras, o que escolhemos efetivar em palavras (que outras pessoas vão ouvir ou ler), e principalmente ações. Enquanto o pensamento está dentro da cabeça, tanto faz.

trapped photo
Photo by lillie kate

Mas e enquanto ele estiver dentro de um documento que julgo que ninguém lerá? É a mesma coisa que se estivesse dentro da minha cabeça, não é? Ele não foi feito pra ser lido por outras pessoas, nem tem qualquer efeito sobre o resto do mundo. Sem nem entrar no mérito dos diários – embora a temporalidade implica uma reflexão contínua, e portanto uma certa seleção da variedade de pensamentos que nos recorta – isso basicamente faz de nossos dispositivos e recursos pessoais da internet parte de nós mesmos de uma forma bastante interessante.