Este ano participei do 10º encontro da Associação Brasileira de Ciência Política, em Belo Horizonte, apresentando um pôster em co-autoria com minha amiga Maria Teresa sobre congruência política. Numa série razoavelmente curta de posts falarei um pouco sobre as ideias com as quais tive contato – devo dizer que uma proporção mínima do que realmente aconteceu, já que o evento é enorme e tinha dezenas de debates simultâneos acontecendo a todo momento!
A viagem
Foi a primeira vez que viajei de GOL e realmente o espaço para as pernas é melhor que a TAM; para mim, totalmente compensa o biscoitinho com água (que eu achei bem bom, inclusive). Só acho que o pessoal do aeroporto de Florianópolis podia ter avisado sobre a necessidade de despachar o banner. Ele não cabia na minha mala, e eu tive que comprar um daqueles tubos pra levá-lo separadamente. Disseram que eu podia levar como bagagem de mão. De Floripa a Sampa foi o que eu fiz, mas ao embarcar pra BH… Surpresa!
Mas que bom que deu tudo certo (ainda que na hora da esteira o tubo não veio com a mala; alguém ficou abanando ele pela cortina) e prosseguimos até o hotel; estávamos eu, o professor Yan Carreirão (a quem, aliás, agradeço imensamente por tudo!) e colegas que encontramos no mesmo voo. Não tenho como falar quase nada de Belo Horizonte, porque pegamos um ônibus que me deixou na porta do hotel e até o dia em que voltei pro aeroporto não saí de perto dali – do hotel em que fiquei eu fui só pro hotel do evento (do lado), para um shopping (à frente, atravessando a avenida por um elevado) e para um restaurante (atrás). Então… Sei lá. Estava quente.
Abertura
Quase todos os outros personagens me eram estranhos (encontrei Aglaé, uma amiga de graduação que eu não fazia ideia que viria): eu não conhecia o rosto mesmo de gente cujos textos eu já tinha lido. Quem eu conhecia melhor – mais professores da UFSC – só chegariam mais tarde, na hora dos comes e bebes, e quando eu estava de saída.
As palestras de abertura ficaram por conta do australiano John Dryzek e do francês Yves Sintomer. Dryzek tem aquele charme de Gandalf, falando tranquilamente sobre democracia deliberativa, mas ignorando confortavelmente uma forte produção anarquista que expandiria bem sobre o tema dele (esse é um tema que vai aparecer com frequência nesse relato, e reservo algumas conclusões quanto a isso para mais tarde). Consegui encontrá-lo depois, no jantar, parabenizá-lo e agradecê-lo pela fala, e perguntar se ele tinha tido contato com a literatura anarquista em questão – e também se estava acompanhando o que estava acontecendo em Rojava. Ele me disse que leu algo sobre Bookchin (claro) e que basicamente o que sabia sobre Rojava era que eles também tinham lido Bookchin. Disse a ele que lhe enriqueceria muito conhecer o debate contemporâneo sobre a questão democrática / deliberativa no anarquismo e, não querendo ser o chato que toma tempo demais de pessoas que não me conhecem, logo me despedi.
Yves foi um querido. Bem humorado, fez uma apresentação mais prática, falando basicamente das mesmas coisas que Dryzek mas tanto problematizando-as quanto trazendo exemplos mais concretos. Falou em espanhol (“Não posso falar em francês porque a França não é mais o centro do mundo”, ele brincou). Depois disso deveríamos ter um lançamento de livros – mas todo mundo atacou o buffet ostentação e eu nem vi onde exatamente eles estavam. Deve ter sido um pouco frustrante pros autores, mas talvez foi só um problema meu mesmo.
O que mais me impactou na abertura (já que as palestras, apesar de interessantes, foram meio que entradinhas sem muita substância) foi uma luxuosidade que eu, na minha santa inocência, não esperava. Um professor entrou comigo no lobby na manhã seguinte e eu comentei que achava um pouco desnecessário aquela pompa toda – não pela ritualística, mas pelos espaços requintados, os lustres da época do império, enfim, o cenário que explicava tacitamente porque a minha inscrição antecipada custou 200 reais (houve quem pagasse 600, dependendo da circunstância). E ele, o professor, esbofeteou-me de volta com uma agridoce colocação: “É. Combater a desigualdade social.”
O hotel e a programação
O Ramada (ou seria Encore?) ‘Minascasa’ é um hotel simpático. Com uma decoração moderninha, duas águas de graça na entrada, cartões em vez de chaves e um café da manhã que faz jus à fama de Minas, me pareceu bem bom pelo preço e pela conveniência de estar do lado do evento. Dividi o quarto com o professor Tiago Borges, que só chegou mais tarde. Compartilhamos histórias de aviões e congressos pregressos (dele), além de prospectos para os próximos dias. Antes de dormir, inclusive, escolhi o que ia ver, aproveitando suas dicas para dar preferência a alguns eventos e cortar outros (por exemplo, naqueles em que eu só estava interessado mesmo em um trabalho a ser apresentado, fui nos anais do evento e baixei o que já estivesse lá). Nas próximas partes deste relato falarei sobre os dias do encontro em si, das coisas que vi e ouvi por ali, e principalmente das ideias que vi circularem no evento.
Algumas coisas que anotei para pesquisar ou ler mais tarde
O livro “The Representative Claim”, de Michael Saward.