Os vídeos do Tempero Drag são em geral muito bons; só às vezes é que me lembram do ranço marxista que incomoda.
Esse sobre dissonância cognitiva é bem redondo, exceto numa premissa muito curiosa que é a tal da “verdade factual”.
Não quero voltar à polêmica pós-moderna, mas vou pelo caminho da observação de que muitas línguas indígenas das Américas (esqueci a referência, talvez um livro sobre os Awa Guajá) embutem em frases descritivas estruturas como “para mim” ou “me parece que” (ou lhe parece que, te parece que, parece a eles que, etc.). Não é tanto uma escolha de usar essa estrutura quando uma descrição mais sucinta – “isto é tal coisa” – serviria; a estrutura mais sucinta simplesmente não existe.
Daí que fico me perguntando se não há uma alternativa para a insistência em “verdades factuais”, qual seja, o reconhecimento da verdade da impressão subjetiva não enquanto necessidade de se curvar a ela, mas de reconhecer que ela produz efeitos.
Se o outro está me dizendo que é assim que percebe a realidade, é assim que ele percebe a realidade.
Não quer dizer que todas as outras pessoas que veem algo diferente estejam erradas. E nesse caso certamente não quer dizer quer devo me basear no que esta única pessoa diz. Mas quer dizer que essa percepção alternativa é simplesmente um dado da realidade que tenho que levar em consideração nos meus atos. Assim como ela precisa levar em consideração o fato de que é a única a ter essa percepção.
Estou cansado pra desenvolver isso, e me parece fútil considerando quanta tinta já foi derramada sobre isso… Mas tudo me parece relacionado a uma estrutura política que possibilita a exigência de uma verdade factual. Não dá pra construir convivência a partir do trabalho de compatibilizar diferentes percepções? O que é a exigência de que separemos opiniões e visões, cada qual com a sua, de fatos, e que é só sobre estes que se deve construir política comum?
Não quero também reificar percepções equivocadas. A troca de experiências também pode levar à troca de visões. E uma troca que a pessoa julga ter sido valiosa. Ela estava errada. Valeu a pena passar a ver a realidade com outros olhos. Etc.