Al-u-bu-u-na (Controlados)
A cidade dos al-u-bu-u-na é uma vila localizada dentro da Floresta Al-u-bu, região central de Heelum. É uma única jir, construída e estruturada de maneira bastante diferente das outras cidades. Sua história e sociedade são únicas, e a soberania sobre a região se deu através de longo e voluntário isolamento, além de um acordo com o Conselho dos Magos. É lá que se manifestam com força os mistérios Al-u-bu e Lato-u-nau. Costuma ser identificada apenas pelo gentílico do povo, que em na-u-min significa “humanos da bela natureza”.
Fundação[editar]
Os al-u-bu-u-na foram um dos cinco grupos que abandonaram a Cidade Arcaica na Primeira Guerra. Diferentemente dos outros grupos, que mantiveram contato através da Rede de Luz, resolveram isolar-se completamente, com medo de que outro monstro como o Yutsi Rubro surgisse.
Estabeleceram-se em meio à Floresta Al-u-bu, assim nomeando-a em relação ao mistério que logo descobriram e com o qual passaram a interagir. Continuaram vivendo de acordo com a maioria dos costumes da Cidade Arcaica, mas os adaptaram para o novo ambiente em que escolheram viver. Permaneceram ocultos e desconhecidos em relação aos outros povos até o fim da Segunda Aurora.
Da redescoberta aos acontecimentos do primeiro livro[editar]
Os al-u-bu-u-na passaram a interagir com as outras cidades quando estas já existiam enquanto tal: no momento em que decidiram recolonizar a Cidade Arcaica. A língua na-u-min, mantida e pouco modificada pelos al-u-bu-u-na, já era bastante irreconhecível no resto de Heelum, que estava em vias de adotar (de maneira controversa) a língua moderna dos humanos. Muita confusão foi determinante para que as relações recém-feitas esfriassem, e cada cidade mantivesse intocada sua preocupação: a Cidade Arcaica seria reconstruída, e o povo da floresta continuaria onde estava.
Vários momentos históricos definiram aos poucos novas interações entre os dois mundos. Durante a Terceira Aurora, vários exploradores invadiam o território al-u-bu-u-na em busca de possíveis novos Minérios - e eram violentamente rechaçados, o que causou diminuição da prática e piora das relações diplomáticas. Na Quarta Aurora alguns magos buscaram guarida no território, após intensa perseguição, e assim que os al-u-bu-u-na descobriram o que a magia realmente significava os expulsaram de lá. Na Quinta Aurora, Al-u-bu os protegeu da ira das doenças da noite, que mesmo que minimamente os afetaram.
Foi na Aurora da União, contudo, que foi acertado o acordo com o recém-criado Conselho dos Magos. O Conselho, desejoso de estabelecer acordos onde fosse possível para estabilizar a posição dos magos e fortalecer seu poder, aceitou um acordo em que os al-u-bu-u-na receberiam os magos em seu território em caso de necessidade, e em troca o território seria protegido da interferência externa por parte das cidades em geral - incluindo a incessante busca por novos minérios. Apesar da escolha pela aliança com os magos em prol do isolamento e da tranquilidade que buscavam, a magia ainda era mal vista pelo povo, como demonstra a incursão de Robin e Desmodes entre eles no Volume 1 da série.
"— Pedimos permissão para permanecer por algum tempo antes de retornar.
O rosto do homem mais velho se fechou ao entender o que Robin quis dizer. Parecia ressentido e até mesmo acuado enquanto resmungava algumas palavras no próprio idioma.
— Podem ficar, mas não são bem-vindos aqui."
Capítulo 27 de A Aliança dos Castelos Ocultos
No primeiro volume da série, Desmodes domina os al-u-bu-u-na com sua magia espólica e faz com que se matem uns aos outros. Nariomono torna-se o único sobrevivente do massacre que efetivamente exterminou os al-u-bu-u-na. O acontecimento foi narrado no capítulo 29 de A Aliança dos Castelos Ocultos.
Cultura, política e simbolismo[editar]
A cultura dos al-u-bu-u-na sofreu modificações pequenas, mas significativas, em relação àquela encontrada na Primeira Aurora na Cidade Arcaica. A Rede de Luz tornava desnecessário o desenvolvimento de uma linguagem complexa enquanto necessidade de comunicação acurada e longa; o desaparecimento da Luz impulsionou o complexificação da linguagem, mesmo que o na-u-min tenha permanecido grandemente inalterado, ao contrário do processo de diversificação ocorrido com nas outras cidades. A caligrafia e a pintura corporal - num corpo já mais desnudo e acostumado a todo um novo ambiente - ganham mais importância.
"Eles tinham a pele bronzeada e vestiam cangas de palha entrelaçada, trazendo a perna desnuda da metade inferior da coxa para baixo, bem como o tronco e os membros superiores. Traziam na barriga lisa inscrições em vermelho vivo, pintadas numa caligrafia cuidadosa e perfeccionista; pareciam-se com as palavras “al-u-nauenago” em um e “revono”, embora as letras n eram mais compridas, e o g perigosamente próximo a um número oito. Carregavam arcos longos, feitos com uma espécie dourada de madeira; ergueram as armas, apontando-as para o tronco dos visitantes, que se viraram para eles." - Capítulo 27 de A Aliança dos Castelos Ocultos
Em termos políticos, certa parte da estrutura social do al-u-bu-u-na foi claramente inspirada pelas ideias do antropólogo francês Pierre Clastres. Nariomono, personagem que não se encaixa na sociedade al-u-bu-u-na devido ao seu gosto por poder e autoridade, vê no chefe uma anomalia: ele tem o posto de chefe, mas não tem poder. Pelo contrário; é severamente limitado em suas ações, ainda que reconhecido e respeitado. Isso ocorre porque a sociedade está politicamente estruturada para evitar que surja um poder autônomo e transcendente que passe a ter controle sobre a soberania do grupo como um todo.
"— Por que o senhor vive desse jeito? Por que os mestres têm que viver assim?
Termono fechou os olhos miúdos, deu um sorriso discreto em que a pouca quantia de dentes se protuberou e balançou a cabeça. Narion estava começando a achá-lo cômico, com seu jeito despojado de exalar uma autoridade que não exercia.
— Sou o poder que eles podem controlar."
Capítulo 28 de A Aliança dos Castelos Ocultos
Os al-u-bu-u-na podem ser vistos como alegoria não apenas dos indígenas - e das formas marcadamente diferentes em que vivem, desde o ambiente até determinadas formas culturais - mas do etnocídio que vêm sofrendo desde o início da colonização europeia sobre o continente americano.
Os mistérios presentes quase que no dia a dia dos al-u-bu-u-na também são outra forma de entender, com mais poesia e filosofia, a forma com que estão no mundo. A "bela natureza" que acolheu o grupo fugido da Cidade Arcaica pode protegê-los, mas dela também emana a "feiura", o necessário contrapeso estético à toda beleza da existência. Lato-u-nau, contudo, é aceito pelo grupo mais como adversário do que como inimigo: Nariomono, não por acaso, tem uma relação mais absoluta e direta com Lato-u-nau como resultado de sua relação diferenciada com a própria noção de poder.
Capítulos com a cidade como cenário[editar]
- Volume I
- Volume II
- A cidade não é cenário de nenhum capítulo no Volume II