Leia seu diálogo em voz alta e certifique-se de que ele é bom de falar, segue bem o ritmo da respiração, e soa bem aos ouvidos. Diálogos falsos, toscos ou inúteis serão revelados, bem como pontos que parecem apressados ou arrastados. Essa é a melhor maneira possível de verificar se tudo está se encaixando.
Seus personagens não devem falar mais que três frases de uma vez – a não ser por uma boa razão.
Diálogos são mais interessantes quando personagens estão dizendo não um para o outro.
Mantenha qualquer explicação fora do diálogo.
Seus personagens devem esconder ou evitar coisas em vez de dizer exatamente o que querem dizer.
Use uma ação no lugar de um adjetivo para demonstrar os sentimentos de um personagem.
Vá direto ao ponto. Não use diálogos que não levem a história adiante e/ou que não revelem o caráter dos personagens.
Seus personagens não precisam ser super articulados. Não tem problema deixar as frases em pedaços. As conversas não precisam seguir uma ordem lógica (pergunta seguida por resposta). Não é preciso ficar no mesmo assunto ou fornecer transições evidentes de um assunto para outro.
Em vez de escrever errado as palavras, é melhor distinguir o nível linguístico de cada personagem a partir de diferentes escolhas de vocabulário e sintaxe.
A = Enredo
B = Dicção
C = Melodia
D = Personagem
E = Pensamento
F = Espetáculo
AB = Exposição
AC = Refrão
AD = Destino
AE = Motivação
AF = Explosões
BC = Letras de músicas
BD = Sotaque
BE = Solilóquio
BF = Palavrões
CD = Solo
CE = Eloquência
CF = Ópera
DE = Interioridade
DF = Desvio comportamental
EF = Epifania
Aviso de conteúdo: figura com vítima de violência doméstica e uma “piada” misógina.
Um comentarista anônimo escreve:
“Fala sério, Chris. Você não acha ruim que a polícia do politicamente correto está censurando escritores? Toda vez que eu uso uma palavra, a polícia do politicamente correta chuta a minha porta abaixo feito Scott Pilgrim (“No dia 21 de dezembro você intencionalmente usou a palavra ‘retardado'”; “Retardado não é politicamente correto?”; “Não, é errado dizer isso!”; “No dia 5 de fevereiro você intencionalmente se referiu a uma pessoa gorda com a palavra ‘gorda'”; “Gorda não é uma palavra politicamente correta?” “Expulse-o da sociedade!”). É como se não pudéssemos escrever mais nada sem ofender alguém. Eu não consigo mais acompanhar as regras. Quando as pessoas vão entender que as palavras só têm o poder que as pessoas lhes dão? E bons escritores não deveriam ofender as pessoas?”
Minha resposta:
Não. Bons escritores fazem as pessoas se sentirem confortáveis sobre o que elas já pensam. Grandes escritores ofendem pessoas.
No entanto, anônimo, você precisa apurar seus ouvidos porque você errou feio, errou rude. Receio que, agora que você foi expulso da sociedade, eu vou ter que ser tão sarcástico com você que você vai explodir.
(…) Você parece estar confundindo insultos com “ofensas”. Humbert Humbert me ofende, mas eu não acho que Nabokov estava fazendo uma apologia à pedofilia – H. H. deveria ser ofensivo. Usar o termo “retardado” não me ofende em particular como uma pessoa com boa saúde mental, mas eu reconheço que o termo faz parte de uma cultura de estigmatização de pessoas com paralisia cerebral. Além disso, a palavra “gorda” em si nao ofende pessoas com sobrepeso em geral; o que ofende é sussurrar e tentar evitar a palavra com olhares preocupados e eufemismos, como se fosse vergonhoso ser gordo, tirar sarro do peso das pessoas ou usar a palavra como se fosse um insulto em vez de uma descrição.
Deixe-me explicar a diferença.
Em primeiro lugar, você deveria se envergonhar. Sério.
Essa merda de “são só palavras, não vão me machucar” pode funcionar quando você tem 5 anos de idade e precisa aprumar suas calças de criança grande e superar o fato de que a Jênifer te chamou de cara de cocozão (não que a Jênifer não precise de um tempo na cadeira do pensamento, mas você provavelmente vai sobreviver o trauma).
No entanto, enquanto escritor você deveria inequivocamente saber que nossa espécie literalmente define sua realidade e sua percepção do mundo ao seu redor através de histórias. Tudo é uma história. Quem você é. Como você chegou até aqui. Aonde você vai. O que você pensa sobre X. O que pensamos sobre aquelas pessoas. E se suas vidas são tão valiosas quanto as nossas. Tudo tem a ver com histórias. É parte do que nos torna únicos enquanto humanos: existimos somente em um instante inefável, como um quadro de um filme, mas o celulóide que mantém o nosso passado e define nosso mundo como algo além de uma sobrevivência caótica por entre momentos desconexos é feito de histórias. Tudo, desde nossa habilidade de passar adiante a somatória de nosso conhecimento até nossa habilidade de fazer uma inferência se baseia em histórias. Nós até vemos nossas próprias vidas como uma espécie de narrativa.
E os tijolos dessas histórias são palavras. As palavras dão forma às histórias que contamos.
Então se suas histórias estão cheias de palavras que equacionam uma classe de pessoas a histórias negativas, o que você acha que acontece com a sua opinião sobre essas pessoas? Mesmo se você “não teve essa intenção”, que tipos de conexões você acha que as pessoas fazem? O que você está dizendo sobre seu valor como seres humanos? O que você está reforçando para si mesmo? E para outros? O que acontece quando você ignora o que essas pessoas dizem a você sobre o que uma palavra significa para elas, sua história, seu contexto?
(…) É dessa forma que muitos em posições de poder confundem “ofender” com “causar dano”. Piadas sobre pênis e peidos são ofensivas (para alguns). Piadas sobre bebês mortos são ofensivas (para muitos). Dizer que pessoas brancas gostam de Starbucks pode ser ofensivo (para alguns poucos). Nenhuma dessas piadas de fato contribui para alguma opressãso. Chamar alguém de retardado é uma forma de tirar sarro dessa pessoa – usar a palavra retardado como sinônimo de não ter inteligência ou ser incapaz faz com que todos que encontrem alguém com paralisia cerebral, por exemplo, faça (conscientemente ou não) conexões sobre sua inteligência ou capacidade. Você equacionou essas pessoas com uma característica negativa.
E, de fato, o que acontece quando pessoas encontram gente com paralisia cerebral é tratá-los como se não fossem inteligentes ou capazes. Isso deixa de ser uma questão de ofender alguém com sensibilidades delicadas.
Mas eu não faço essas conexões! Eu sou um pessoa de bem.
A) Se você não parar de usar um insulto, não, você não é não. B) Não é assim que a linguística funciona – é por isso que a primeira coisa que acontece antes de um genocídio é que as pessoas que estão prestes a serem mortas são comparadas a ratos ou baratas.
Insultos, estereótipos, e discursos de ódio contribuem para a opressão sistemática de pessoas marginalizadas. Eles são o ruído de fundo que justifica desrespeitos. Eles levam a aplicações desiguais de empatia, nuance, e rigor intelectual. Eles apontam quem se pode ignorar, sobre quem se pode rir, quem pode ser desconsiderado.
Indicam quem se pode odiar.
Mas eu não! Eu não odeio ninguém.
Tem certeza? Porque nesse momento tudo que estão pedindo é que você pare de usar uma palavra, e você está ficando irritado com isso.
Vemos repetidamente que os resultados de palavras preconceituosas têm efeitos mensuráveis sobre comportamento preconceituoso. Houve estudos conectando o uso de insultos com mais frequente comportamento preconceituoso. Brutalidade policial, discriminação laboral, políticas externas quanto a nações não-europeias, médicos que ignoram problemas de saúde evitáveis para deixar de lado pessoas gordas dizendo que elas só precisam perder peso, prédios sem acessibilidade, a normalização de sexo sem consentimento, discriminação no acesso à compra de imóveis, e até mesmo justificações tácitas para crimes violentos – incluindo pessoas que são mortas por ser quem são (e se você acha que o racismo não causa mortes, que a misoginia não causa mortes, que a transfobia não causa mortes, que a homofobia não causa… Bem, você simplesmente não está prestando atenção).
Não tem porra de mistério nenhum quanto ao porquê de crimes de ódio aumentaram quando certas “meras palavras” começam a se tornar comuns.
Essa não é uma categoria discursiva que as pessoas podem simplesmente “superar”. Isso vai além de “ser ofendido” (embora seja com frequência ofensiva também). Ninguém tem o direito de nunca se ofender. Mas todos têm o direito de falar quando as palavras que estão moldando sua realidade não lhes conferem uma dignidade humana básica (E se isso te OFENDE, ora ora, não é irônico?). É aqueles que estão no topo das hierarquias sociais (homens brancos em particular) que acham que palavras não podem realmente machucar as pessoas porque não há palavras que possam fazer mais que ofendê-los.
Será que uma palavra sua vai causar um crime de ódio? Não. O uso repetido, constante e ubíquo por parte de uma cultura de desrespeito cria uma desumanização que leva a crimes de ódio? Bem, podemos ver claramente que sim.
Não, não se trata de censura. Certamente não se trata de o governo vir até a suas casa, chutar abaixo sua porta, levar o seu computador e te jogar na prisão. Aí você poderia reclamar sobre como está sendo oprimido, mas até lá você não pode dizer que esse é o caso só porque está recebendo alguns tuítes nervosos.
A verdade é que a polícia nem liga pra ameaças de morte.
Ah, mas espera” Isso não é “LIBERDADES PRESSÃO” legalmente falando mas se trata de um “efeito tranquilizador sobre o discurso”, o que é um tipo de “censura”, certo? Alguns – quase smepre aqueles que não sofrem os efeitos dessas palavras (brancos, homens, cisgêneros, heterossexuais, etc) – falam desse “efeito” quando são forçados a considerar o impacto de seus insultos quando chamam um time de futebol de bando de viados ou quando chamam os perdedores de mulherzinhas. Porque sinceramente o que essas pessoas querem não é liberdade de expressão, mas serem libres DAS consequências da expressão.
E se você olhar em volta, você deve notar que as coisas estão bem não-tranquilas.
Não, não são só palavras.
É sobre as palavras e as pessoas que têm a coragem de dizer que as suas palavras podem lhes causar dano psicológico real e duradouro. E ganha 10 pontos quem encontrar a ironia na posição de quem quer silenciar seus detratores e reclama de censura. Puta merda, Deus me livre que você, como escritor, pare um só momento pra pensar direito no que as suas palavras significam. Ou você faltou o dia que ensinaram a escrever na escola?
Olha, anônimo, há mais ou menos nove categorias de discurso quanto às quais você deve ser cuidadoso. Racismo, misoginia/sexismo, capacitismo, transfobia/transantagonismo, gordofobia, homofobia/heteronormatividade, classismo, preconceito quanto à idade, e certos tipos de preconceito étnico/religioso que não se encaixam perfeitamente em questões de raça. Há algumas variações que não se encaixam nessas categorias muito bem (como usar palavras violentas em relação a quem trabalha com sexo), mas são principalmente palavras que reforçam uma hierarquia social e uma dinâmica de poder que empurram pessoas para as margens da sociedade, operando muito além da mera “ofensa”.
É isso.
Não é uma enorme lista de palavras que poderiam ser insultos ou um complexo conceitual impossível de entender, e é certamente parte de uma certa dinâmica de poder dizer que você não consegue aprender isso.
Aviso: “Eu não consigo acompanhar as regras” sempre sempre SEMPRE significa “eu não quero me esforçar pra acompanhar as regras”.
O mesmo cara que diz “embora existam apenas 151 pokemons que você pode descobrir, eu conheço todos os 802 que existem” diz “quem poderia acompanhar palavras que se foram ficando cada vez mais problemáticas desde 1997?”
Muitos de nós memorizaram mais palavras quando foram obrigados a cantar o hino nacional no ensino fundamental, e conceptualizamos ainda mais ideias para a prova de geometria. É verdade que há mais envolvido em entender discursos de ódio que aprender uma lista de palavras que fazem você parecer um idiota quando as usa, mas você está falando sobre pessoas que estão diretamente reclamando das coisas que você escreve. Então você não precisa fazer muito mais se ter empatia e ouvir às histórias dos outros é demais pro seu estômago.
E aliás, não foram “essas pessoas” e a sensibilidade de flor de deserto delas que “deu poder às palavras”. Foram os opressores que usaram essas palavras para justificar sua opressão, que têm usado essas palavras para tirar a humanidade de seres humanos, com frequência de maneira sangrenta através da história, então não é realmente muito pedir para que você use 0.00001% dos seus 10 terabytes de memória para aprender sobre as palavras que contribuem com a opressão sistemática de outros seres humanos.
O cara nerdão diz: “Não chame ele de Passolargo porque na verdade ele era Aragorn o Segundo, filho de Arathorn, herdeiro de Isildur e aquele que por todo esse tempo teve direito aos tronos de Arnor e Gondor. Ele foi chamado de Estel pelos elfos para deixá-lo a salvo porque se alguém soubesse quem ele eralmente era, Sauron poderia matá-lo. E ele também usou o nome Thorongil quando serviu a Theoden e aos pais de Denathor (Thengel e Ecthelion o Segundo respectivamente). Ele também foi o Chefe dos Guardiães do Nortee carrega a espada Narsil, que foi renomeada Anduril mas era originalmente a Espada de Elendil”.
O mesmo cara diz: “O quê? Retardado é um insulto agora? Quem consegue acompanhar isso”.
Se você vai afirmar que perder acesso a algumas centenas de palavras em uma linguagem com um milhão ed palavras é algo que limita a sua gloriosa criatividade, você deveria simplesmente abraçar o seu esfíncter interior (que é bem parecido com o exterior, mas tem mais merda), e parar de me escrever pedindo permissão pra ser um babaca repugnante. Pessoas vão gritar “ai” toda vez que você pisar nos dedos delas, e se você disse que elas não estão sentindo dor de verdade porque não foi sua intenção machucá-las, elas vão te explicar por que você é um idiota.
E sem querer ser muito específico, anônimo, mas se você vai ficar todo ferido e choroso quando alguém te disser que você está sendo ofensivo, você não é provavelmente o campeão da liberdade de expressão que você acha que é, e você poderia parar de usar palavras ofensivas para que as pessoas parem de machucar seus frágeis sentimentos com a liberdade de expressão delas.
Você PODE usar essas palavras? Claro que pode. Porque afinal de contas, você vive nos Estados Unidos, um lugar em que o governo NÃO VAI chutar sua porta abaixo. E se você quiser colocá-las na boca de um personagem ficcional ele será visto como preconceituoso – talvez alguns o vejam como alguém nuançado, que tenha também outras qualidades que o redimam, enquanto outros o vejam como lixo humano, mas essa é a sua escolha enquanto autor (embora se ficar claro que você concorda com esse personagem ou não ver nada de errado com seu comportamento, você também será atacado enquanto autor por isso).
Você SERÁ capaz de usar essas palavras sem consequências? Não tanto agora que a internet evitou que homens ricos, brancos, cisgênero, héteros, etc, controlem TODOS os espaços e todas as vozes. Mas as consequências serão menores se você deixa de entrar no Facebook e no Twitter por uns dias.
Você DEVERIA parar de usá-las? Obviamente eu acho que deveria (fora de contextos como personagens problemáticos). Mas é algo que você vai ter que decidir por si mesmo como parte de seu próprio código moral e sua própria empatia em relação a outros seres humanos, e em relação a quão confortável você está fazendo parte da linguística da opressão sistemática.
Mas eu vou dizer uma coisa, e vou dizê-la de uma forma tão direta quanto possível, para que seja IMPOSSÍVEL você deixar de entender:
Se você não consegue insultar as pessoas sem usar insultos contra grupos marginalizados, você é provavelmente um escritor muito, muito ruim.
Aqui está o que procuramos em romances escritas por autores iniciantes; espero que ajude!
Não nos faça sentir que estamos começando uma história com você. Comece o livro como se já estivesse no meio da história, e o termine como se fosse um novo começo.
O enredo é muito importante, mas não às custas do desenvolvimento dos personagens. Nós seguiremos um personagem bem desenvolvido aonde quer que ele vá, mas vamos questionar tudo que um personagem mal desenvolvido faz.
A maneira como a história faz o leitor se sentir é tão importante quanto a forma como ela o faz pensar.
Ame o processo de escrita, mas não espere gostar de ler o que você escreveu.
Nós lemos para aprender, experimentar e sentir algo novo. Conforto é uma anátema para escritores e leitores podem facilmente perceber complacência.
Leve os seus personagens ao limite. É mais fácil tirá-los do limite do penhasco que seguir empurrando-os morro acima.
Vi essa série de tweets de John Paul Brammer (ironicamente, no Facebook) e decidi traduzi-los porque, embora não é uma ideia nova – na verdade é bem antiga – ela explica de maneira bastante simples o fenômeno global da derrota cultural que sofremos, enquanto anticapitalistas, não só em fazer vencer o contrapoder mas também de minimamente difundir a realidade da exploração econômica.
A explicação marxista, é claro, é que essa “falsa consciência” é consequência direta da dinâmica material. Claro, ideias não mudam o mundo sozinhas, mas são parte da transformação. É ridículo e absurdo falar em “doutrinação marxista” nas escolas se as pessoas saem delas pensando dessa forma… De qualquer modo, urge pensar que atacar “pobres de direita” é uma atitude antipedagógica.
Então, sou um americano-mexicano de uma cidade rural pobre (e majoritariamente branca) em Oklahoma. O que está faltando nesse debate todo? Como brancos pobres veem a si mesmos. Se você está se perguntando como pessoas brancas pobres e exploradas poderiam votar em um cara com um elevador de ouro que vai foder com eles, aqui vai a explicação.
Eles não veem a si mesmos como pobres. Eles não baseiam suas identidades nisso. Eles se veem como “milionários temporariamente envergonhados”. O estigma contra a pobreza é incrivelmente forte. É vergonhoso ser pobre, não ter os confortos da classe média. Então eles fingem não ser pobres. Estão dispostas a mentir pra fazer parecer que não são pobres. Compram coisas para passasr a impressão de que não são pobres.
Na minha cidade, a riqueza não era associada à ganância, mas ao trabalho duro e a uma bondade essencial. Se você tem riqueza material, você é abençoado. Quando eles olham para o Trump, não veem um extorsionista que é rico por causa das mesmas condições que mantêm suas comunidades na pobreza. Eles veem alguém que trabalhou muito e foi recompensado de forma justa com muita fortuna. A maioria dos homens, em especial, pensam que poderiam ser o Trump se não fosse os obstáculos injustos colocados em seu caminho. Homens brancos que não se consideram bem sucedidos o bastante tem tantas desculpas para seus “fracassos”… A ideia de que imigrantes são a razão de sua pobreza, e não os ricos como Trump, é tão apelativa. Ela expurga toda vergonha e toda culpa.
E aqui temos um homem que, para eles, “diz as coisas como elas são” e está disposto a dar nome aos bois que roubam sua prosperidade. Se essas pessoas vissem a si mesmas como uma classe explorada, se a cultura americana não estigmatizasse a pobreza tanto assim, poderia ser diferente. Mas os Estados Unidos misturaram tanto a riqueza com a bondade e a pobreza com deficiência moral que eles não conseguem construir tal identidade. É uma coisa que eles simplesmente não fazem.
O Trump é rico, e portanto de acordo com os critérios americanos ele também é:
Sábio
Justo
Moral
Merecedor
Forte
Esperto
Ele tem que ser.
O capitalismo e o “sonho americano” ensinam que a pobreza é um estado temporário que pode ser transcendido com trabalho árduo e inteligência. Não conseguir transcendê-la, e admitir que você é pobre, é admitir que você não é nem trabalhador nem inteligente. É uma lavagem cerebral cultural.
Então o que acontece se uma classe explorada não quer admitir que é explorada e culpam a si mesmos pela própria opressão? Xenofobia. Ódio de qualquer um que seja “diferente”, gays, trans, negros. Essas pessoas estão erodindo a “bondade” americana. E se apenas eles parassem de arruinar os Estados Unidos, então o perfeito projeto americano poderia voltar a dar certo e a prosperidade retornaria.
Estou dizendo pra você, como alguém que passou quase a vida toda nesse ambiente, se vocẽ acha que centros urbanos são “bolhas”… Meu Deus.
Como você equilibra essas realidades, e a que conclusões você chega para melhorar a vida de ambas, eu não tenho como saber. Ainda assim, temos que entender a identidade que a classe trabalhadora branca construiu pra si mesma, porque, bem, ela se opõe completamente à realidade.
Porque o Trump não vai enriquecê-los. Mesmo que ele deporte todos os “marrons”. Ele não vai lhes dar o que eles esperam.