Sobre punições (Citação por Nietzsche)

Durante milênios, os malfeitores submetidos à punição tiveram dos seus crimes a mesma impressão de que fala Espinosa: inesperadamente qualquer coisa correu mal, e não eu não devia ter feito isto… Submetiam-se à punição como quem aceita uma doença, uma calamidade ou a morte […]. Naqueles tempos, se existia crítica do ato, era uma crítica exercida por parte da inteligência: não haverá dúvidas de que o verdadeiro efeito da punição tem que ser procurado na agudização da inteligência, no prolongamento da memória, na vontade de agir futuramente com mais cautela, maior secretismo e desconfiança, na compreensão de que há muitas coisas para as quais se é definitivamente demasiado fraco, ou seja, numa espécie de correção da avaliação que o indivíduo faz das suas capacidades. No geral, quer no homem quer nos animais, o que se alcança com a punição é o aumento do medo, o desenvolvimento da esperteza, o domínio sobre os desejos… Ora, desse modo a punição domestica o homem, mas não o torna melhor… Mais razões haveria para afirmar o contrário (aprende-se com os erros, diz o povo; na medida em que se aprende, fica-se também pior…, mas felizmente muitas vezes também se fica mais estúpido).

Aurora 202

Revolução Francesa ao contrário

“Viver nos Estados Unidos no século XXI é como estar em uma Revolução Francesa ao contrário. Os ignorantes querem colocar uma aristocracia antiética no governo; ocorre o inverso da Queda da Bastilha, já que se enfiam mais e mais pessoas em prisões cheias, para o lucro dos aristocratas, e os pobres estão morrendo não de fome, mas de obesidade epidêmica, por LITERALMENTE COMEREM BOLO.”

Post no 9gag

Universos insulares (Citação por Aldous Huxley)

“Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscendência, debalde. Por sua própria naturez, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias – tudo isso são coisas privadas e, a não ser por meio de símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidas. Podemos acumular informações sobre experiências, mas nunca as próprias experiências. Da família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares.”

Aldous Huxley, em As Portas da Percepção

A autonomia de Nietzsche (Citação por Acampora e Ansell Pearson)

“A sessão 347 de Gaia Ciência escrutina a fé, o dogma e o que Nietzsche chama de fanatismo em termos da organização comando/obediência, que ele articula várias vezes em “Para além do bem e do mal”. Se por um lado todos nós somos ordens de comando/obediência, o que comanda e o que obedece, como o comando ocorre e como exerce seu controle sobre outras partes, até que ponto nos conscientemente identificamos com o que comanda, e o tipo de poder que sentimos, tudo isso varia consideravelmente e fundamenta as distinções que Nietzsche descreve em seus trabalhos. No caso do crente, Nietzsche acredita que a estrutura de comando é tão dissipada e tão disfuncional que a única forma de experimentar o prazer do poder é, perversamente, estando sujeito a ele, sendo comandado: “quanto menos alguém sabe comandar […], mais urgente é a busca por alguém que comanda, que comanda seguramente” (Gaia Ciência, 347). O que Nietzsche descreve como o “espírito livre por excelência” é alguém com um “tal prazer e poder de autodeterminação […] tal liberdade da vontade [will] […] que o espírito deixaria para trás toda fé e todo desejo por certeza, tendo se acostumado a manter-se sobre cordas insubstanciais e a possibilidade de dançar perto de abismos”. […] O espírito livre encontrado nas partes finais de Gaia Ciência desenvolveu uma organização e uma relação de afetos (que Nietzsche identifica com força [strength] [Para Além do Bem e do Mal, 21] e com a saúde [Humano, Demasiadamente Humano, P:4]) que permite que ele seja livre da necessidade de ser comandado, que ele se identifique com e experimente os poderes de comando dentro de si. Enquanto isso se assemelha a outras concepções de autonomia na histórias da filosofia, esse pensamento se distingue no reconhecimento da complexidade, flexibilidade e conteúdo (por exemplo, o prazer de viver, sentir-se como um poder no mundo de forma a não buscar apoio em suportes incondicionais).”

Christa Davis Acampora e Keith Ansell Pearson em Nietzsche’s Beyond Good and Evil, p. 73-76

Locke é um nojentinho

“As posses do pai são a expectativa e a herança dos filhos. […] A importância deste vínculo é que ele influencia a obediência dos filhos.”. “E nisto (a procriação) […] encontra-se a razão principal, se não a única, de permanecerem mais tempo unidos o macho e a fêmea na raça humana do que entre outras criaturas.”

(Do Segundo Tratado sobre o Governo)

Amo imensamente (Citação por Mikhail Bakunin)

“[…] Amo imensamente […]; devo e quero merecer o amor daquela que amo, amando-a religiosamente, quer dizer, ativamente; […] e devo libertá-la combatendo seus opressores e acendendo em seu coração o sentimento de sua própria dignidade, suscitando nela o amor e a necessidade de liberdade, os instintos de revolta e independência, lembrando-lhe o sentimento de sua força e de seus direitos. Amar é querer a liberdade, a completa independência do outro, o primeiro ato do verdadeiro amor; é a emancipação completa do objeto que se ama; não se pode verdadeiramente amar senão a um ser perfeitamente livre, independente não apenas de todos os outros, mas até mesmo, e sobretudo, daquele pelo qual é amado e que ele próprio ama. […] Querer, amando, a dependência daquele a quem se ama, é amar uma coisa e não um ser humano, pois este só se distingue da coisa pela liberdade; e também se o amor implicasse a dependência, ele seria a coisa mais perigosa e mais infame do mundo, porque criaria uma fonte inesgotável de escravidão e de degradação para a humanidade”

O leitor preguiçoso (Citação por Cristina Ponte)

“Enquanto o estilo literário é o espaço da incerteza, do indeterminado, de “brancos” que o leitor deve preencher, funcionando como máquina preguiçosa na expressão de Eco, na imprensa é o leitor que ocupará esse lugar da preguiça, sendo o trabalho do jornalista a colmatação das brechas possíveis, limitando o esforço interpretativo, construindo assim um leitor preguiçoso.”

O eterno retorno

“No pensamento do eterno retorno somos ensinados que o momento não pode ser separado do devir, ou seja, de tudo que foi e tudo que tornou o momento o que ele é. Portanto, ao desejar o momento também desejamos tudo o que levou até ele. Isso não significa que alguém simplesmente aceita, através de algum tipo de confiante, porém cego, fatalismo, qualquer coisa que exista porque já existiu, porque tem um passado. Afirmação não significa aceitação desprovida de crítica. O grande desafio que Nietzsche enfrenta é como ensinar a redenção através do ensinamento de que o desejo precisa aprender a desejar o impossível – tudo o que “já foi”. A redenção do desejo é obtida quando o desejo aprende que desejar o passado só é possível quando se deseja o futuro, ou seja, que a redenção do passado encontra-se no desejo criativo do futuro. Desejar o passado torna-se, assim, um ato constituído pelo ato de um novo desejo criativo. Tal desejo deve existir não como um sacrifício do presente em nome do futuro – esse seria o supremo ato de ressentimento e vingança – mas dentro do inocente momento que sempre fica à frente no futuro, garantindo a chegada do novo e do único. Redenção é apenas possível nos termos da vinda do futuro, onde o novo é criado daquilo que é velho; daquilo que já foi.”

Keith Ansell-Pearson